Imaginature: Mário Cunha é o Fotógrafo de Paisagem 2023

Mário Cunha, 37 anos, foi o grande vencedor do Imaginature: Fotógrafo de Paisagem do Ano 2023, com as suas imagens da Serra da Estrela e da Peneda-Gerês. Leia esta curta entrevista que deu à Wilder.

O Imaginature – IX Festival de Fotografia de Paisagem (25 e 26 de Novembro) em Manteigas escolheu como Fotógrafo de Paisagem do Ano Mário Cunha.

Parque Natural da Serra da Estrela. Foto: Mário Cunha
Parque Natural da Serra da Estrela. Foto: Mário Cunha
Parque Nacional da Peneda-Gerês. Foto: Mário Cunha
Parque Nacional da Peneda-Gerês. Foto: Mário Cunha

WILDER: Onde e quando foram captadas as suas quatro imagens vencedoras?

Mário Cunha: Duas das imagens foram captadas no Parque Natural da Serra da Estrela durante o Outono de 2020, local que visito tanto para participar no Imaginature desde 2019 e onde também realizo alguns dos meus workshops. As outras duas imagens foram captadas no meu local de eleição para fotografar, o Parque Nacional da Peneda-Gerês. A imagem em que vemos neve a cair junto ao rio com as margens repletas de pinheiros silvestres foi captada no inicio de 2023 durante a tempestade Fien; podem ver o vídeo onde esta imagem foi captada no meu canal de Youtube. Finalmente, a imagem da cascata é no Rio Arado, também em pleno Parque Nacional. Trata-se de uma imagem mais íntima, onde apenas revelo a parte que, para mim, era a mais interessante de uma cascata com uma queda enorme de várias dezenas de metros.

W: O que representa para si esta distinção?

Mário Cunha: É sempre uma óptima notícia quando recebemos um prémio onde a nossa arte é reconhecida. No entanto, receber a distinção de fotógrafo de paisagem do ano é algo diferente. Senti que passados alguns anos a fotografar as paisagens do nosso país todo o meu esforço foi reconhecido por outros colegas fotógrafos que admiro. Devo realçar ainda que fiquei contente por ter recebido esta distinção no ano em que a organização decidiu premiar o fotógrafo do ano tendo como base várias imagens submetidas às categorias a concurso, avaliando assim a qualidade do trabalho mas também a consistência dessa qualidade em diferentes categorias e usando diferentes técnicas. Penso que esta abordagem é muito mais “correta” para todos os participantes do que premiar o fotógrafo do ano tendo como critério apenas uma imagem que era o que vinha a ser feito até este ano na generalidade dos concursos nacionais. Parabéns à organização do Imaginature por esta mudança!

W: O que quis transmitir com estas imagens?

Mário Cunha: Quando estou a fotografar paisagem tento sempre captar a sua essência e, simultaneamente, colocar na imagem final parte de mim. Sou um apaixonado por montanhas, bosques e rios – são estes locais que me fazem levantar cedo, dormir debaixo de tempestades e caminhar quilómetros para captar momentos que a natureza partilha com poucos. Como podem ver tanto nas imagens de montanha da Serra da Estrela como no rio da Serra do Gerês há, pelo menos para mim, uma sensação de grandiosidade da paisagem e energia pura, duas coisas que me fazem sentir muito pequeno quando me encontro nestes locais. Espero que estas sensações passem para quem vê o meu trabalho. Na cascata há algo de mais calmo; fotografar água e a energia que decidimos transmitir com o seu movimento é algo a que dou muita importância. Gosto de ouvir o som da sua passagem e passar isso para a fotografia. No final, penso que qualquer imagem de natureza e paisagem tem sempre uma mensagem muito importante: mostrar a todos o património natural que temos e que devemos preservar.

W: Quando começou a fotografar e porquê?

Mário Cunha: A minha primeira câmara fotográfica chegou às minhas mãos em 2007, uma pequena compacta que usava para fotografar todos os animais que encontrava nas poças de maré da minha cidade, Póvoa de Varzim. Fotografei durante um ano em todas as estações, durante o dia e à noite, isto porque sou biólogo de formação e queria simplesmente conhecer a biodiversidade das poças de maré de uma forma mais profunda. No entanto, não creio que tenha sido aqui o momento em que comecei a fotografar. Depois desta pequena aventura fiquei anos sem fotografar até estar a meio do meu doutoramento. Aí sim, em meados de 2015, tudo começou a ficar sério. Comecei a fotografar aves e era algo que fazia sempre que tinha algum tempo livre, talvez para fugir ao stress inerente a um douramento. Acredito que foi aqui que comecei a perceber que a fotografia e o contacto com a natureza era o que me deixava feliz. Ainda durante o doutoramento fui viver para a Noruega e fui completamente apanhado pelas paisagens fabulosas daquele país. Foi aqui que a paixão pelas montanhas, bosques e rios, assim como a vontade de passar noites a fazer campismo selvagem, nasceu e dura até hoje!


Saiba mais sobre Mário Cunha

Mário Cunha, 37 anos, dedica-se unicamente à fotografia de natureza desde 2019. Realiza vários workshops e expedições fotográficas em Portugal, Espanha, Noruega e, “quem sabe, num futuro próximo haja novidades pelo continente Africano”.

Partilha grande parte das suas aventuras e algum conhecimento técnico em fotografia de natureza no seu canal de Youtube.

Também é responsável pela “Comunidade Contemplação”, na qual “qualquer pessoa se pode inscrever e onde todas as semanas nos reunimos para discutir fotografia, algo que me tem dado imenso prazer!”

Neste momento, Mário Cunha está a trabalhar em dois projetos pessoais: um dedicado à Serra do Gerês e outro a uma zona restrita no Parque Nacional dos Picos da Europa onde o seu objectivo é retratar os bosques antigos de faias daquele local.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.