Fêmea de leão-africano. Foto: Stig Nygaard/Wiki Commons

Investigadora ganha bolsa para estudar vida selvagem em Moçambique

Joana Pereira, estudante de doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, vai estudar formas de minimizar conflitos entre as comunidades e a vida selvagem no Parque Nacional das Quirimbas.

A Bolsa Early Career, atribuída pela Sociedade National Geographic, vai permitir a Joana Pereira, do  Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, trabalhar dois meses em Moçambique.

A investigadora vai focar-se nos conflitos entre os grandes mamíferos e as pessoas que vivem no Parque Nacional das Quirimbas, em Moçambique. Nesta área protegida, que entrou em 2018 para a rede de Reservas da Biosfera da UNESCO, vivem 46 espécies de mamíferos terrestres, incluindo elefantes, leões, búfalos e leopardos. 

O objectivo de Joana Pereira é definir estratégias de mitigação e gestão em nome da coexistência.

“O meu projeto é sobre as pessoas e a sua interação com a vida selvagem”, explicou Joana Pereira, num comunicado divulgado a 20 de Maio. “Quero abordar as suas necessidades de forma a melhorar tanto o seu bem estar como a sua coexistência com a vida selvagem – algo que é vantajoso para ambos os lados.”

Joana Pereira. Foto: cE3c

Joana Pereira parte para Moçambique em Agosto. Durante dois meses vai trabalhar com as principais partes interessadas que podem ter um papel relevante nos conflitos, através da dinamização de inquéritos, reuniões participativas e workshops.

Ao mesmo tempo vai recolher informações sobre a distribuição e abundância de espécies na região, recorrendo a registos de câmaras fotográficas (camera-trapping) já instaladas naquele Parque Nacional.

“Face ao crescimento exponencial da população humana, é urgente encontrar formas sustentáveis de conviver com a vida selvagem”, salientou Joana Pereira.

Na sua opinião, “estes conflitos, cujo número está a aumentar um pouco por todo o mundo, são resultado desta rápida expansão humana”.

“Além disso, a complexidade dos conflitos entre as populações humanas e a vida selvagem tem sido negligenciada: temo-nos concentrado nas perdas materiais e monetárias, e falta-nos abordar questões subjacentes muito mais profundas. Compreender como podemos usar o contexto ecológico, socio-económico, político, religioso, cultural e histórico pode ser a chave para abordar de forma eficiente esta questão”, defendeu Joana Pereira.

O projeto é financiado pela Sociedade National Geographic e decorre até 2020, altura em que a investigadora regressa a Moçambique para seleccionar e implementar, em conjunto com as comunidades locais, algumas medidas de mitigação para diminuir os conflitos actuais.

As Bolsas Early Career da National Geographic têm como objetivo dar a estudantes em início de carreira a oportunidade de liderar um projeto nas áreas de conservação, educação, investigação, storytelling ou tecnologia, não sendo necessário que os candidatos tenham uma formação avançada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.