Canário amarelo, uma das variedades domésticas mais populares no mundo. Foto: Ricardo Jorge Lopes

Investigadores lançam livro que desvenda o que se sabe sobre o canário doméstico

Investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto publicaram o primeiro livro dedicado ao conhecimento existente sobre o canário, uma das aves mais populares e amadas no mundo inteiro, e que há muito é um modelo de estudo em diferentes áreas da ciência.

A domesticação do canário, a partir das ilhas Canárias, deu origem a uma diversidade de raças domésticas com canto, forma e cor diversificados que hoje existem por todo o mundo. Como resultado desta domesticação, o canário também se tornou um animal modelo no estudo da fisiologia da reprodução, da genética da coloração e do desenvolvimento e neurobiologia do canto, contribuindo assim para desvendar até aspectos do desenvolvimento da linguagem humana.

Canário amarelo, uma das variedades domésticas mais populares no mundo. Foto: Ricardo Jorge Lopes

Menos conhecidas que o canário doméstico são as suas formas selvagens, outras espécies de canários ou aparentadas com estes, os ambientes em que evoluíram e as funções e evolução dos seus cantos e cor. 

O livro The Canary: Natural History, Science and Cultural Significance (“O Canário: História Natural, Ciência e Significado Cultural”) – reúne pela primeira vez o essencial do conhecimento gerado à volta do canário: a sua vida selvagem, a história e significado cultural da sua domesticação, a evolução e ecologia do canário e espécies aparentadas e como esta ave tem contribuído para avanços científicos em áreas tão diversas como a neurobiologia, fisiologia e genética.

“O livro pretende tornar esse conhecimento acessível a um público abrangente, interessado em ciência e nos seus desenvolvimentos. E é também dirigido a investigadores nas várias disciplinas que têm usado o canário ou outras aves como espécies modelo, e que se querem informar sobre o seu contexto de história natural, ecologia e evolução”, explicou, em comunicado, o BIOPOLIS-CIBIO.

“É notável que, após séculos de domesticação e muitas décadas de investigação usando canários, nenhum livro tivesse ainda organizado esta informação” referiu Gonçalo Cardoso, investigador do BIOPOLIS-CIBIO e um dos editores do livro. “Milhões de pessoas convivem com canários nas suas casas e muitas quererão aventurar-se e perceber o que está sob a superfície. Há muito a descobrir, especialmente contrastando o aspeto e comportamento dos canários domésticos com os do canário selvagem nas Canárias, Madeira e Açores. E também contrastando a biologia deste com a das espécies que lhe são aparentadas noutras partes do mundo.” 

Ricardo Jorge Lopes, também editor e curador da coleção de ornitologia do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, acrescentou que “nos capítulos finais olhámos para áreas científicas onde o canário tem sido um modelo laboratorial muito útil e vemos que, devido à sua diversidade de variedades domésticas, continuará a ser um modelo importante para investigação futura. Portanto, o livro não só celebra como o canário tem ajudado a Ciência, mas também antevê como o continuará a fazer.”

“Este livro foi motivado pela experiência de investigação em comportamento, evolução, genética e conservação de canários e espécies aparentadas, que nós e colegas no BIOPOLIS-CIBIO temos tido desde há vários anos”, explicou Paulo Gama Mota, outro dos editores e professor de comportamento animal e evolução no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra. “Esta experiência ajudou-nos a atrair contribuições de outros peritos internacionais nestas aves, em disciplinas como etnobiologia, biogeografia, fisiologia ou neurociências.”

O livro contou com contributos de autores de Portugal, Espanha, França, Alemanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. Foi publicado pela Academic Press no final de Novembro e está disponível online e em livrarias de especialidade.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.