Libertados os primeiros quebra-ossos de 2023 na Andaluzia

Quebra-ossos reintroduzido em Cazorla a 24 de Abril de 2023. Foto: VCF

As primeiras libertações do ano de quebra-ossos aconteceram a 24 de Abril no Parque Natural de Cazorla, na Andaluzia, Espanha, anunciou a Fundação para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF).

A 24 de Abril foram libertadas duas fêmeas naquela área protegida para reforçar a população selvagem local. Ambas têm cerca de três meses de idade.

Quebra-ossos reintroduzido em Cazorla a 24 de Abril de 2023. Foto: VCF

Estas duas aves nasceram em Áustria, no Centro de Reprodução da espécie Richard Faust Zentrum Specialised Breeding Centre (RFZ). A BG 1159 nasceu a 19 de Janeiro deste ano e foi a primeira desta temporada. A outra fêmea, BG 1160 nasceu a 27 de Janeiro.

As libertações acontecem no âmbito do projecto de reintrodução da espécie na Andaluzia, que decorre desde 1996.

As equipas técnicas colocam as aves em ninhos artificiais construídos em escarpas rochosas inacessíveis, muito parecidos aos ninhos construídos pelas próprias aves. As fêmeas deverão ser capazes de começar a voar dentro de 20 a 30 dias. Até lá, técnicos da Junta da Andaluzia vão acompanhar o seu desenvolvimento à distância.

Os quebra-ossos extinguiram-se na Andaluzia em 1986. Dez anos depois, a Junta da Andaluzia – com a colaboração da VCF e da então Fundación Gypaetus – iniciou um projecto de reintrodução para trazer esta espécie de volta. As primeiras libertações na natureza aconteceram em 2006 e desde então já foram libertados 83 quebra-ossos.

Um dos quebra-ossos reintroduzido em Cazorla a 24 de Abril. As aves foram transportadas para os ninhos em caixas de madeira, especialmente feitas para as transportar.

O primeiro caso de reprodução com sucesso aconteceu em 2015. A cria recebeu o nome de Esperanza.

Neste momento, a população de quebra-ossos da Andaluzia está a crescer, com cinco casais reprodutores e 43 indivíduos confirmados.

Mas o que está a acontecer na Andaluzia é apenas uma parte deste esforço. Actualmente, 44 instituições estão a trabalhar para devolver o quebra-ossos à Europa. As próximas libertações destas aves vão acontecer em França para ajudar a metapopulação que existe entre os Alpes e os Pirinéus.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

Desde 2008, e pela primeira vez em 100 anos, aves libertadas no âmbito da reintrodução da espécie na Andaluzia têm sido observadas nos céus portugueses, fazendo curtas incursões no nosso país.

Quebra-ossos nos Pirinéus, Espanha. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Em Março de 2022, Portugal e Espanha deram um novo passo para o regresso do quebra-ossos. Foi apresentado em Navarredonda de Gredos (em Castela-Leão) o projecto LIFE Corredores Ibéricos para o Quebra-ossos para ajudar a espécie a regressar ao Sistema Central, através de um corredor ecológico que vai de Portugal através da Península Ibérica de Este a Oeste.

Portugal irá, então, “proceder ao estudo das condições ecológicas existentes em algumas zonas do Norte do país no sentido de avaliar as condições de uma futura recolonização natural ou artificialmente induzida, com o apoio técnico dos parceiros espanhóis envolvidos no projecto”, adiantou, então, o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) à Wilder.

O objectivo, acrescentou, é avaliar “o potencial para a ocorrência regular da espécie e eventual nidificação futura”.


Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.