Musaranhos das cidades têm comportamentos mais diferentes entre si do que os do campo

Musaranho-de-dentes-brancos. Foto: Balles2601/WikiCommons

Os musaranhos das cidades são mais diferentes entre si, quanto a comportamentos agressivos ou ousados, do que os musaranhos que vivem no campo, que serão muito semelhantes entre si, revela um novo estudo.

Uma equipa de investigadores – do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), pólo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e do Institute of Environmental Biology da Adam Mickiewicz University (AMU), na Polónia – estudou duas espécies diferentes de musaranhos: o musaranho comum (Sorex araneus), mais adaptado aos climas frios e estudado na Polónia, e o musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula), mais adaptado aos climas quentes e estudado em Portugal.

Musaranho-de-dentes-brancos. Foto: Balles2601/WikiCommons

Os musaranhos urbanos estudados provinham de locais com características diferentes como pequenas manchas de vegetação no movimentado campus universitário, arbustos em parques urbanos frequentados por humanos e seus cães ou ainda áreas verdes abandonadas próximas a uma estrada barulhenta da cidade, onde os níveis de ruído são altos, mas onde a perturbação directa por humanos é quase inexistente. Em contraste, todos os locais rurais apresentavam baixos níveis de poluição sonora ou luminosa e raras perturbações directas causadas por seres humanos.

Para ambas as espécies, em Portugal e na Polónia, os resultados foram os mesmos: os indivíduos de populações urbanas de musaranhos diferem mais no seu comportamento, uns dos outros, do que os indivíduos de populações rurais.

“O facto de resultados semelhantes terem sido encontrados em duas espécies tão diferentes entre si sugere um padrão geral”, diz, em comunicado, Leszek Rychlik, professor da AMU e coordenador do estudo.

“Enquanto os membros das populações do campo parecem ser bastante semelhantes entre si, as cidades parecem criar personalidades distintas, todas diferentes umas das outras. Possivelmente, personalidades tão diversas da cidade são causadas pela alta heterogeneidade espacial e temporal nos ambientes urbanos”, diz Sophie von Merten, primeira autora do artigo e investigadora do CESAM Ciências ULisboa.

Para Leszek Rychlik, como as cidades estão a crescer continuamente em todo o mundo, estudos como este são importantes para entender melhor as consequências da urbanização sobre os animais selvagens. “Em última análise, isso pode ajudar a proteger a biodiversidade”, sublinhou.

Os resultados desta investigação serão publicados em Maio num artigo na revista Animal Behaviour.

Além disso, acrescentam os autores do artigo, é fundamental entender como esta espécie se adapta rapidamente a novos ambientes – por exemplo, às áreas urbanas – para melhor prever o seu ritmo de expansão. Até porque o musaranho-de-dentes-brancos está em expansão na Europa e foi identificado como tendo um carácter invasor em algumas ilhas, nomeadamente na Irlanda.

Os musaranhos são pequenos mamíferos insectívoros, raramente avistados, mas em expansão na Europa.

Em Portugal existem seis espécies de musaranhos:

  • Musaranho-de-água (Neomys anomalus)
  • Musaranho-anão-de-dentes-brancos (Suncus etruscus)
  • Musaranho-anão-de-dentes-vermelhos (Sorex minutus)
  • Musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula)
  • Musaranho-de-dentes-brancos-pequeno (Crocidura suaveolens)
  • Musaranho-de-dentes-vermelhos (Sorex granarius)

Saiba mais.

Descubra aqui por que os musaranhos se juntam em abrigos no Inverno.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.