O insecto-folha que esperou 125 anos para ser descoberto

Phyllium regina é uma espécie nova para a Ciência descrita em 2019 graças a uma fêmea que foi recolhida em 1896 na Indonésia.

É o único exemplar que se conhece desta espécie, endémica do arquipélago indonésio de Obi, no oceano Pacífico, e está guardado na Colecção de Entomologia do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC), em Madrid.

Vista dorsal

Os insectos folha simulam o movimento das folhas quando há vento, balançando-se para a frente e para trás quando se deslocam. Imitam magistralmente as folhas das plantas das quais se alimentam e adoptam posturas que lhes permitem passar despercebidos; inclusive os seus ovos parecem-se com as sementes dos vegetais nos quais foram colocados. Estas folhas andantes são mestras na arte da camuflagem.

Além passar despercebido na natureza, este insecto também passou despercebido durante décadas nas gavetas daquele museu de história natural.

Quando, há mais de um século, a Phyllium regina chegou à colecção do MNCN-CSIC, ninguém pensou em assinalá-la como uma espécie diferente. Terá sido Ignacio Bolívar, especialista em ortópteros (saltões, grilhos, gafanhotos, etc) e director do museu a partir de 1901, quem a guardou cuidadosamente na Colecção de Entomologia.

Vista ventral

A protagonista desta história é uma fêmea que descansa desde 1896 naquele museu. “É o único exemplar de Phyllium regina que está conservado e, segundo o que sabemos, nunca mais foi colectado nenhum”, disse Mercedes París, curadora da Colecção de Entomologia, em comunicado.

Foram precisos mais de 100 anos para que esta espécie tenha sido descrita.

Escondida numa caixa entomológica

Quando o cientista alemão Frank Henneman visitou a colecção do MNCN em 2007, fotografou várias caixas entomológicas deste grupo de insectos. Entre eles encontrava-se um insecto folha colectado na ilha de Obi que lhe chamou a atenção.

Doze anos depois da visita do entomólogo alemão, um estudo sistemático do género Phyllium, realizado com outros colegas, permitiu descobrir uma nova espécie entre o material aos cuidados do MNCN.  

Tal tarefa coube a uma equipa de investigadores coordenada pelo especialista no género R. T. Cumming, graças ao exemplar que se conserva no MNCN e que agora é o holotipo da espécie.

A nova espécie, Phyllium (Compatphyllium) regina n. sp., foi descrita num artigo publicado em Setembro de 2019 na revista científica Faunitaxys, tomando como referência a fêmea descoberta na colecção.

Os dados da descrição do insecto-folha e a revisão das espécies do mesmo género – Phyllium caudatumPhyllium riedeli – confirmam que estas três espécies partilham um conjunto único de características que as distinguem do resto dos membros do género Phyllium. Isto levou os investigadores a definir um novo subgénero Phyllium (Comptaphyllium) subgen. nov.

A Phyllium regina é endémica de Wallacea, a região biogeográfica que está situada numa zona intermédia entre a Ásia e a Oceânia, separada destas por duas profundas fossas marinhas. Esta região é um dos pontos mais importantes de biodiversidade (hotspots) do mundo, já que conta com um grande número de espécies endémicas de plantas e de animais.

“O seu habitat, uma pequena ilha da Indonésia, conserva áreas ainda virgens e esta descoberta demonstra o valor da nossa colecção, que guarda material centenário de zonas praticamente inexploradas”, acrescentou Mercedes París.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.