Quebra-ossos Serafín e Ángeles libertados na Andalusia

A 13 de Junho, dois juvenis de quebra-ossos (Gypaetus barbatus) foram libertados na Andaluzia, Espanha, marcando as últimas duas reintroduções na natureza desta temporada.

No total, 21 quebra-ossos que nasceram em cativeiro na rede de centros de reprodução dedicados a esta espécie foram reintroduzidos este ano em nove regiões europeias, segundo a Fundação para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF).

Um dos quebra-ossos reintroduzidos agora na Andaluzia. Foto: Jovan Andevski

Serafín, nascido na República Checa, e Ángeles, nascido na Finlândia, foram libertados a 13 de Junho no Parque Natural das Sierras de Cazorla, Segura e Villas. Graças à técnica chamada “hacking” consegue-se que o animal assuma a zona de libertação como o seu lugar de nascimento e que regresse a ela para se reproduzir.

Dias antes tinham chegado ao centro de reprodução de Guadalentín, gerido pela VCF, onde fizeram a aclimatação e adaptação ao meio.

O projecto de reintrodução de quebra-ossos na Andaluzia começou em 1996, com as primeiras aves nascidas em cativeiro a serem reintroduzidas em 2006. Nove anos depois das primeiras reintroduções, Toño e Blimunda formaram o primeiro casal, um acontecimento marcante no regresso da espécie à Andaluzia, depois de 32 anos de ausência.

Desde então, novos juvenis têm sido reintroduzidos todos os anos no Parque Natural das Sierras de Cazorla, Segura e Villas para reforçar a população da Andaluzia.

Hoje existem 10 casais reprodutores estabelecidos na Andaluzia e outros quatro estarão em processo de formação.

Oito casais puseram ovos nesta temporada reprodutora; apenas duas crias sobreviveram.

O mais ameaçado da Europa

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

Desde 2008, e pela primeira vez em 100 anos, aves libertadas no âmbito da reintrodução da espécie na Andaluzia têm sido observadas nos céus portugueses, fazendo curtas incursões no nosso país.

Em Março de 2022, Portugal e Espanha deram um novo passo para o regresso do quebra-ossos. Foi apresentado em Navarredonda de Gredos (em Castela-Leão) o projecto LIFE Corredores Ibéricos para o Quebra-ossos para ajudar a espécie a regressar ao Sistema Central, através de um corredor ecológico que vai de Portugal através da Península Ibérica de Este a Oeste.

Portugal irá, então, “proceder ao estudo das condições ecológicas existentes em algumas zonas do Norte do país no sentido de avaliar as condições de uma futura recolonização natural ou artificialmente induzida, com o apoio técnico dos parceiros espanhóis envolvidos no projecto”, adiantou, então, o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) à Wilder.

O objectivo, acrescentou, é avaliar “o potencial para a ocorrência regular da espécie e eventual nidificação futura”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.