Espectáculo no Zoomarine. Foto: Joseolgon/Wiki Commons

Zoomarine acusado de tratamento cruel a golfinhos

O Zoomarine, no Algarve, é acusado de tratar os golfinhos de forma cruel, forçando-os a actuar em ‘shows’ e a passarem por situações de stress no convívio directo com visitantes.

O relatório ‘The Show Can’t Go On’ (“O espectáculo não pode continuar”, em português), elaborado pela World Animal Protection e pela Change for Animals Foundation, relata os resultados de uma análise a 1.200 aquários e zoos, incluindo visitas a 12 destes equipamentos em vários pontos do mundo, todos eles ligados directa ou indirectamente à WAZA – Associação Mundial de Zoos e Aquários.

No que respeita ao Zoomarine, a equipa comprovou que este é um dos aquários visitados – tal como o Sea World San Antonio (EUA) e o Sea World da Austrália – que oferecem espectáculos com golfinhos e experiências de convívio directo com estes mamíferos. “Os visitantes podem entrar nas piscinas com os golfinhos para nadarem com eles, fazerem festas e posar para fotografias, enquanto os treinadores mostram as ordens usadas para exigirem comportamentos dos animais.”

Mas no caso algarvio, o ‘show’ vai mais longe, descreve o relatório: “O pessoal do aquário coloca-se em cima das costas dos golfinhos e surfa em cima deles. O espectáculo também envolve os golfinhos rebocarem um pequeno barco com crianças, à volta do tanque.”

De acordo com os autores deste relatório, no caso do Zoomarine e de outros aquários ali referidos, os golfinhos treinados para os espectáculos são muitas vezes sujeitos a um stress constante – o que pode desencadear casos de doença e de morte. São também afastados do comportamento que teriam na natureza.

Em causa está a realização de vários espectáculos por dia e o recurso a “métodos de treino controversos”, em que se retiram alimentos e estímulos sociais, para depois oferecê-los como recompensa durante as actuações. “A dieta dos golfinhos é influenciada pela sua performance e não pelo facto de terem fome.”

Stress constante

Por outro lado, durante as actuações são obrigados a passar muito tempo à superfície da água, para verem os treinadores a darem-lhes ordens e recompensas. “Tempo prolongado à superfície e exposição directa dos olhos ao sol não é natural para os golfinhos e pode causar lesões na vista, infecções e cataratas prematuras.”

Espectáculo no Zoomarine. Foto: Joseolgon/Wiki Commons

Também o som elevado das multidões que assistem ao espectáculo pode causar-lhes stress e ter efeitos negativos na alimentação e na forma como se movimentam e respiram.

Quanto à natação com golfinhos, “as unhas e as jóias dos visitantes podem danificar a pele delicada” destes animais, sendo que a presença de pessoas junto deles pode aumentar os seus níveis de stress. Aliás, este convívio directo ameaça também levar à transmissão de doenças dos visitantes para os golfinhos e vice-versa, avisa o relatório.

Mais 11 zoos e aquários

Além do Zoomarine, outros 11 locais considerados mais problemáticos foram visitados e acusados de tratarem de forma cruel animais que têm ao seu cuidado, incluindo a Dolphin Island, em Singapura, o Zoo D’Amneville e o Puy du Fou, em França, o Sea World San Antonio (EUA) e o Sea World da Austrália e ainda o Ichicara Elephant Kingdom, no Japão.

As duas organizações internacionais apelam a que não haja mais visitas a esses locais nem a divulgação das actividades que fazem, pelos visitantes, nas redes sociais.

Quanto aos golfinhos, a World Animal Protection e a Change for Animals Foundation defendem que a longo prazo é necessário que aquários e outros locais semelhantes deixem de usar estes animais e os retirem para santuários marinhos, onde possam desfrutar de um ambiente muito melhor.

“Os golfinhos são animais selvagens inteligentes com uma ampla área de distribuição, que mergulham a grandes profundidades, e um aquário nunca pode replicar totalmente o ambiente oceânico complexo onde evoluíram para se sentirem bem”, sublinham.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.