Grifos têm altas concentrações de chumbo no organismo

Os grifos (Gyps fulvus) da Península Ibérica estão expostos a elevados níveis de chumbo no organismo, o que afecta o seu sistema imunológico e a sua função reprodutora, segundo um estudo publicado na revista Ecotoxicology and Environmental Safety.

As aves selvagens são susceptíveis aos elementos tóxicos no ambiente, especialmente aos metais pesados que se encontram nos alimentos que compõem a sua dieta e que não são degradáveis.

Uma equipa de investigadores analisou a presença de mercúrio, cádmio e chumbo no sangue de 121 grifos em Portugal e na Cataluña, e comparou a concentração entre as populações selvagens e os indivíduos que deram entrada nos centros de recuperação fracos – por malnutrição – e feridos.

As análises não detectaram quase nenhum cádmio e mercúrio mas detectaram grandes concentrações de chumbo: em 42,22 mg/dl (micrograma por decilitro) no caso das populações selvagens.

“Isto deve-se ao tipo de dieta destes animais – carne de espécies domésticas e selvagens cinegéticas -, já que o consumo de espécies cinegéticas aumenta a probabilidade de ingestão de chumbo”, explicou Manuela Carneiro, investigadora da Universidade de Trás-os-Montes que participou no estudo, à agência espanhola SINC (Servicio de Información y Noticias Científicas). Nas aves dos centros de recuperação, a malnutrição foi a principal causa de ingresso, pelo que não estiveram tão expostas ao chumbo através da alimentação.

Devido à obrigação de eliminar os cadáveres de ruminantes procedentes dos criadores de gado, “os abutres enfrentam uma escassez de alimento que os levou a mudar a dieta e a consumir uma maior quantidade de espécies cinegéticas”, explicou a investigadora. Precisamente, Carneiro aponta a caça como a fonte principal de chumbo nestas aves, através da ingestão da carne com bocados de chumbo nos animais mortos.

Outras actividades humanas também contribuem para este fenómeno, “como as lixeiras, as actividades industriais, minas e a fundição”.

Carneiro afirmou que, dependendo da dose, “o chumbo pode causar directamente a morte do animal ou alterações vasculares, nervosas e renais”. Além disso, “a presença de chumbo afecta indirectamente a população de grifos devido a variações no seu comportamento, na diminuição do êxito reprodutivo e uma menor resposta imunológica”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.