Leitores: Porque é que se vêem ajuntamentos de milhares de insectos à beira-mar?

Joaninha numa praia. Foto: Wiki Commons

Rita Cancela assistiu a um estranho fenómeno ao cair da tarde, numa praia da Costa Alentejana, e pediu ajuda para perceber do que se trata. Albano Soares responde.

No dia 29 de Abril, pelas 19h00, Rita Cancela estava a dar um passeio numa praia de que gosta muito, na Costa Alentejana. Com o sol quase a pôr-se e a maré vazia, assistiu a um fenómeno que a deixou boquiaberta.

“Fui ver a maré vazia, que era grande, e comecei a ver centenas ou milhares de insectos de umas 30 espécies diferentes, todos juntos na maré vazia!”, descreve. “Vi joaninhas amarelas, muitas, outros insectos vermelhos parecidos com joaninhas, vários tipos de gafanhotos – uns castanhos e outros verdes – vários tipos de escaravelhos e vários tipos de aranhas…”

No mesmo local, Rita Cancela viu também “uns insectos com antenas grandes”, “verdes metálicos”, outros “que lembram carochas amarelos com riscas pretas”, e também insectos “com vários tipos de cores e padrões”. “Eram mesmo umas 30 espécies de insectos diferentes, todos juntos às centenas ou milhares.”

Escaravelho da espécie Cicindela campestris. Foto: Felix Grimm/Wiki Commons

Rita, que não tinha consigo um telemóvel, não conseguiu fotografar os insectos. Mas reparou que vários afogavam-se na areia molhada e tentou salvar mais de 200, deixando os restantes entregues ao seu destino.

“Nunca tinha visto nada assim nem em terra, muito menos à beira-mar! Queria saber se já foi identificado algum fenómeno assim, é normal?”, perguntou a leitora, numa mensagem enviada à Wilder.

“Sorte poder testemunhar tal acontecimento”, responde Albano Soares, entomólogo, que explica que ajuntamentos como este que Rita testemunhou “são fenómenos relativamente normais e mais ou menos regulares”, mas difíceis de observar. “Estes frenesins” quase sempre acontecem em terra firme e “raramente são notados”.

O investigador ligado ao Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal afirma que ajuntamentos como este “estão sem dúvida ligados ao ciclo reprodutor de muitos insectos, que encontram em determinadas épocas condições excepcionais para encontrarem parceiro e assim recomeçar um novo ciclo de vida”.

Joaninhas amarelas da espécie Psyllobora vigintidupuncata. Foto: Gilles San Martin/Wiki Commons

Algumas vezes, como sucedeu agora, os insectos são levados para a praia ou para o mar, “por algum motivo atmosférico”, e depois há “milhares de exemplares que dão à costa”. E nessas situações, “tudo muda de figura”, pois acabam por ser observados – como aconteceu com Rita Cancela.


Agora é a sua vez.

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.