Pseudo-escorpiões: factos sobre estas espécies, como caçam e onde vivem

Descubra o que são pseudo-escorpiões, aprenda como caçam, onde vivem e porque estão ameaçados. O perito Sérgio Henriques dá-lhe os factos.

Porque se chamam “pseudo-escorpiões”?

O seu nome comum vem da sua aparente semelhança com um escorpião que perdeu “a cauda”. Ainda assim, os dois não poderiam ser mais diferentes.

Pseudo-escorpião. Foto: Vicenzo Turi/WikiCommons

A que grupo pertencem?

Pertencem aos aracnídeos. Talvez os seus membros mais famosos sejam as aranhas e escorpiões, mas existem muito mais aracnídeos em Portugal. Por exemplo, também temos opiliões (que se confundem com aranhas, embora não façam teia), as carraças e os acaros do pó, os palpigrados (que apenas se encontram em cavernas), os solifugos (ou lacrau-pedeiro) e um grupo chamado pseudo-escorpiões.

Onde vivem?

Os pseudo-escorpiões vivem debaixo de cascas de árvores, em ninhos de animais – como toupeiras, ouriços ou aves – ou no solo. Estes pequenos predadores fazem seda com “a boca” que usam para fazer os pequenos iglos onde moram, ou para construir complexas platafomas de acasalamento, que guiam a fêmea até ao macho.

Pseudo-escorpião. Foto: Marshal Hedin/WikiCommons

Como caçam?

Estes animais produzem veneno incrivelmente potente que, embora não tenha nenhum efeito em humanos, consegue paralisar insectos em poucos segundos. Importante de notar que estes bichos sao minúsculos, tal como as quantidades de veneno que produzem, para além de que a pele humana é incrivelmente espessa em comparação com este animais, pelo que a única defesa é passar despercebido ou fugir. Se produzem seda pela boca, como é que conseguem morder? Não conseguem. E se não têm cauda como é que conseguem inocular veneno? Aqui está outra das coisas que torna estes animais tão únicos: inoculam veneno pela ponta das pincas. Assim, quando apanham um animal não só o conseguem agarrar como o paralisam ao mesmo tempo.

Há espécies que caçam presas dezenas de vezes maiores que eles como um grupo, que seria comparavel a ter um grupo de gatos a caçar e derrubar um elefante.

Qual o seu tamanho?

São sempre minúsculos. De tal forma que são animais pequenos e leves que apanham boleias de moscas e escaravelhos, num comportamento que chamamos de foresia.

Foto:AfroBrazilian/WikiCommons

Quem fez o primeiro registo conhecido destes animais?

Foi Aristóteles, que os encontrou nos pergaminhos da sua biblioteca a comer pestes que atacam papel. Por isso são valorizados como guardiões do conhecimento humano desde tempos antigos.

Há pseudo-escorpiões em Portugal?

Sim, Portugal tem várias espécies endémicas destes animais e certamente muitas mais haverão por descobrir, únicas do nosso país. Para algumas destas espécies o seu parente vivo mais próximo só se encontra no continente americano, e são consideradas espécies relíquias, por serem os últimos descendentes de um tempo em que o nosso país era tropical e fisicamente ligado a outros continentes.

Em Janeiro de 2018, o leitor da Wilder João Trinta fez um registo raro de uma espécie de pseudo-escorpião, na Póvoa de Santa Iria.

Que ameaças enfrentam?

Hoje em dia essas espécies só existem em grutas, onde o seu clima tropical e humidade elevada nunca desapareceu. Mas muitas destas grutas estão em perigo constante, por serem usadas como lixeiras, turismo mal gerido e sobretudo exploração mineira. Num período de dificuldades económicas é difícil pensar em reduzir indústrias que geram emprego e riqueza económica, mas creio que também seria importante pensar em que riqueza natural queremos deixar à próxima geração. Porque uma vez que se destruam estas cavernas e se percam estas espécies únicas do nosso país, não haverá como as trazer de volta.


Sérgio Henriques é líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres. É também o perito em aranhas do “Que Espécie é Esta” da Wilder.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.