Gabão vai criar a maior rede de áreas marinhas protegidas de África

Vinte parques e reservas marinhas vão ser criadas nas águas do Gabão para conservar baleias, tartarugas, peixes e outros tesouros naturais. O anúncio da maior rede de áreas marinhas protegidas de África foi feito na Conferência da ONU sobre Oceanos a decorrer até 9 de Junho em Nova Iorque.

 

No primeiro dia da conferência, a 5 de Junho, o Presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, anunciou a criação de 20 novas áreas marinhas protegidas, cobrindo uma área de 52.000 quilómetros quadrados.

A rede vai incluir nove novos parques marinhos e 11 reservas aquáticas, cobrindo 26% das águas territoriais do país, disse Lee White, director dos Parques Nacionais do Gabão.

A ideia por detrás desta iniciativa é conservar os “incríveis tesouros naturais” das águas costeiras daquele país, com a maior população reprodutora de tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea) e 20% da população mundial de baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) que ali se reproduz.

Esta rede resulta de cinco anos de trabalho científico e três rondas de consultas públicas para, segundo Lee White, “envolver as populações locais desde o início do processo”. Isto porque, acrescentou, “a criação de áreas marinhas protegidas não é só sobre conservação, é também sobre formas de optimizar o uso dos nossos oceanos e aumentar a produtividade das pescas”, das quais depende grande parte da população. Este responsável espera que a rede de áreas marinhas resulte num aumento dos recursos pesqueiros e ajude a diversificar a economia do país, através do turismo sustentável.

A Conferência da ONU sobre oceanos começou nesta segunda-feira na sede da ONU em Nova Iorque. O secretário-geral da organização, António Guterres, apelou à cooperação de todos os países e defendeu uma nova visão estratégica para a gestão dos oceanos e dos recursos marinhos, incluindo a expansão das áreas marinhas protegidas e a redução dos plásticos no oceano. “A conservação e o uso sustentável dos recursos marinhos são duas faces da mesma moeda.”

O presidente da Assembleia Geral, Peter Thompson, apelou ao esforço de corrigirmos o que temos vindo a fazer de mal e que “não tem desculpa”. Referiu-se ao despejo do equivalente a um camião de lixo de plástico nos oceanos a cada minuto de cada dia, ao colapso dos recursos pesqueiros e à destruição da vida marinha através da acidificação dos oceanos. “Estamos aqui em nome da Humanidade para restaurar a sustentabilidade, equilíbrio e o espeito pelo Oceano, fonte de vida.”

Wu Hongbo, secretário-geral da conferência, lembrou que sem oceanos e mares, não haveria vida no planeta.

A Conferência dos Oceanos está a trabalhar nas metas definidas pela Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adoptada em 2015. Entre as principais áreas de foco desta primeira conferência da ONU dedicada aos Oceanos está um apelo político à acção e a compromissos voluntários. A 5 de Junho, dia do arranque da conferência, já tinham sido recebidos centenas de compromissos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.