Ilhas Selvagens têm a natureza mais intacta do Atlântico

Uma expedição às ilhas Selvagens, na Região Autónoma da Madeira, descobriu ali o ecossistema mais intacto do oceano Atlântico, com baleias, tubarões, golfinhos, atuns e a maior colónia mundial de uma ave marinha.

 

Um ecossistema “vibrante, equilibrado e com uma enorme diversidade de fauna e flora” foi o que encontrou nas Ilhas Selvagens em Setembro de 2015 a expedição Pristine Seas, da National Geographic. Os investigadores mergulharam para avaliar o estado do meio marinho daquelas ilhas, com o apoio da Fundação Waitt e a Fundação Oceano Azul.

 

Foto: Manu San Felix/National Geographic

 

As Selvagens – duas ilhas e vários ilhéus – contam com uma área marinha de proteção total até aos 200m de profundidade e com impacto humano direto reduzido, a Reserva Natural das ilhas Selvagens.

Em Julho de 2016, os investigadores voltaram com outra expedição, dessa vez para comparar o estado de saúde do ecossistema marinho das Ilhas Selvagens com a ilha da Madeira, uma região densamente povoada.

Parte do resultado destas duas expedições foi publicado em Novembro num artigo científico na revista PLOS ONE.

 

Foto: Manu San Felix/National Geographic

 

No total foram realizadas mais de 150 horas de mergulho em 29 locais na Reserva Marinha das ilhas Selvagens e em 36 locais na zona costeira da ilha da Madeira, a duas profundidades diferentes – 10 e 20 metros. O objectivo era conhecer a abundância das espécies de peixes, algas e dos animais que vivem junto ao fundo do mar, como os ouriços-do-mar.

Os investigadores descobriram que a biomassa total de peixes costeiros é três vezes superior nas ilhas Selvagens do que na ilha da Madeira. E que a biomassa de predadores de topo nas ilhas Selvagens é 10 vezes superior.

 

Foto: Andy Mann/National Geographic

 

Garoupas, xaréus (charuteiros), peixes-porco e outras espécies com valor comercial são muito mais abundantes nas Ilhas Selvagens onde atingem também maiores dimensões em relação ao que acontece na ilha da Madeira. Aqui estas espécies estão sobre-exploradas.

Mais perto da costa, a biodiversidade da zona entre-marés das Selvagens, foi descrita como a mais intacta da região. Um exemplo é a abundância de lapas de grandes dimensões, que são raras em todas as outras ilhas da Macaronésia e se encontram praticamente extintas nas Canárias.

 

Pedida a expansão da área marinha protegida das Selvagens

Por enquanto, o “ecossistema marinho costeiro das ilhas Selvagens encontra-se saudável”, segundo um comunicado divulgado agora sobre as expedições. Ainda assim, a pesca ilegal e a pesca de grandes pelágicos, como o atum, nas zonas limítrofes à área da Reserva Marinha das ilhas Selvagens são ameaças a esta riqueza natural.

 

Foto: Andy Mann/National Geographic

 

A expedição identificou muitas espécies com interesse comercial ou de conservação nos ambientes marinhos costeiros, bem como no oceano profundo, à volta das ilhas Selvagens. No entanto, estes ambientes e espécies não se encontram atualmente protegidos.”

Por isso, os investigadores defendem a expansão da área marinha protegida das Selvagens para permitir a protecção a espécies como baleias, golfinhos, atuns, espadartes, tubarões e muitas aves marinhas, como a cagarra que aqui tem a maior colónia do mundo.

Segundo os cientistas, “com esta proteção adicional ficam salvaguardadas as rotas de migração destas espécies pelágicas, bem como os ambientes do oceano profundo. Com uma reserva marinha de grandes dimensões na região, melhoram-se também os stocks pesqueiros, beneficiando-se assim a atividade da pesca nas áreas envolventes à reserva.”

 

Foto: Andy Mann/National Geographic

 

Os especialistas defendem ainda o aumento das áreas marinhas protegidas na Madeira para que o ecossistema recupere.

“A Reserva Natural das Selvagens poderá servir como exemplo sobre como proteger um dos últimos redutos selvagens do planeta antes que seja demasiado tarde.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.