Estuário do Tejo. Foto: Joana Bourgard/Wilder

Guia prático para celebrar o Dia Mundial das Zonas Húmidas

A 2 de Fevereiro o mundo celebra o Dia das Zonas Húmidas, cada vez mais importantes num cenário de escassez de água e extinção de espécies. Saiba como não passar ao lado das comemorações.

A 2 de Fevereiro celebra-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, com dezenas de actividades de Norte a Sul de Portugal.

Quando começou a comemoração deste Dia?

Tudo começou a 2 de Fevereiro de 1971 na cidade iraniana de Ramsar, na costa do mar Cáspio. Ali foi criada a Convenção sobre as Zonas Húmidas, um tratado intergovernamental que foi o primeiro dos tratados mundiais sobre conservação. 

Cerca de 90% das zonas húmidas do planeta têm vindo a degradar-se desde o século XVIII e hoje estamos a perder zonas húmidas três vezes mais depressa do que estamos a perder florestas. “É urgente reverter esta perda e incentivar acções para conservar e restaurar estas zonas húmidas,” defende o Secretariado da Convenção de Ramsar.

Por isso, o mundo começou a aproveitar o dia 2 de Fevereiro para alertar para a importância de conservar estes locais.

Este Dia Internacional foi estabelecido em 1997. A 30 de Agosto de 2021, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou uma resolução que estabeleceu o dia 2 de Fevereiro como o Dia Mundial das Zonas Húmidas.

As celebrações são organizadas pelo Secretariado da Convenção das Zonas Húmidas.

O que são zonas húmidas?

São zonas húmidas “zonas de pântano, charco, turfeira ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não exceda os seis metros”. As zonas húmidas podem incluir ainda “zonas ribeirinhas ou costeiras a elas adjacentes”.

Estes espaços são vitais para a sobrevivência humana pois retêm e armazenam água. As zonas húmidas são um dos locais mais produtivos do mundo e ricos em biodiversidade. São ecossistemas importantes que ajudam a biodiversidade, contribuem para a mitigação e adaptação climática e disponibilidade de água e sustentam as economias mundiais.

Qual o tema deste ano?

Este ano, o tema é “Zonas Húmidas e Bem-Estar Humano”. O objectivo é sublinhar a ligação entre zonas húmidas e a vida das pessoas e destacar que todos os aspectos do bem-estar humano estão ligados à saúde das zonas húmidas do planeta. “Cada zona húmida é importante. Cada esforço conta.”

Quem apoia a Convenção de Ramsar e quantas zonas húmidas inclui?

A Convenção de Ramsar é assinada por mais de 170 Estados, entre eles Portugal que o fez em 1980. Desde então ficou obrigado a designar zonas húmidas, elaborar planos de ordenamento e gestão para essas zonas e a promover a sua conservação.

Quando um país adere à Convenção de Ramsar tem a obrigação de designar pelo menos uma zona húmida para ser incluída na Lista de Zonas Húmidas de Importância Internacional. Hoje esta lista inclui cerca de 2.500 zonas húmidas de todas as regiões do mundo, somando uma superfície de 256 milhões de hectares.

Entre os nove critérios para a identificação de zonas húmidas de importância internacional figura que contenham “um exemplo representativo, raro ou único de um tipo de zona húmida natural ou quase natural dentro da região biogeográfica apropriada”. Também entrarão na Lista Ramsar zonas que albergam “espécies Vulneráveis, Em Perigo ou Criticamente Em Perigo ou comunidades ecológicas ameaçadas”. Outro critério também é conter “populações de espécies vegetais e/ou animais importantes para manter a diversidade biológica de uma região biogeográfica determinada”.

Quantas e quais as áreas Ramsar em Portugal?

Actualmente são 31 as zonas húmidas portuguesas na Lista Ramsar, num total de 132.487 hectares. Num primeiro momento, Portugal incluiu os espaços emblemáticos do estuário do Tejo e Ria Formosa, logo em 1980. Depois foi acrescentando outros:

Estuário do Tejo (14.563 ha): 1980

Ria Formosa (16.000 ha): 1980

Estuário do Sado (25.588 ha): 1996

Lagoa de Albufeira (1.995 ha): 1996

Ria de Alvor (1.454 ha): 1996

Lagoa de Santo André e Lagoa da Sancha (2.638 ha): 1996

Paul de Arzila (585 ha): 1996

Paul da Madriz (226 ha): 1996

Paul do Boquilobo (529 ha): 1996

Sapais de Castro Marim (2.235 ha): 1996

Paul de Tornada (50 ha): 2001

Paul do Taipal (233 ha): 2001

Estuário do Mondego (1.518 ha): 2005

Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos (346 ha): 2005

Planalto da Serra da Estrela e troço superior do rio Zêzere (5.075 ha): 2005

Fajãs da Caldeira e Lagoas Cubres, Açores (87 ha): 2005

Polje de Mira Minde e nascentes associadas (662 ha): 2005

Caldeira da Graciosa, Açores (120 ha): 2008

Caldeira do Faial, Açores (312 ha): 2008

Caldeirão do Corvo, Açores (316 ha): 2008

Complexo Vulcânico das Furnas, Açores (2.855 ha): 2008

Complexo Vulcânico das Sete Cidades, Açores (2.171 ha): 2008

Complexo Vulcânico do Fogo, Açores (2.182 ha): 2008

Planalto Central das Flores (Morro Alto), Açores (2.572 ha): 2008

Planalto Central da Terceira (Furnas do Enxofre e Algar do Carvão), Açores (1.283 ha): 2008

Planalto Central de São Jorge (Pico da Esperança), Açores (231 ha): 2008

Planalto Central do Pico (Achada), Açores (748 ha): 2008

Ilhéus das Formigas e Recife Dollabarat (7 ha): 2008

Pateira de Fermentelos e vale dos rios Águeda e Cértima (1.559 ha): 2012

Paul da Praia da Vitória, Açores (16 ha): 2012

Ribeira do Vascão (44.331 ha): 2012

Actividades onde pode participar:

Segundo o Secretariado da Convenção das Zonas Húmidas, Portugal organiza 39 actividades, entre elas estas sete:

Passeio para descobrir o Sapal do rio Coina: visita guiada pelos técnicos da associação Vita Nativa – Conservação da Natureza e organizado pela Câmara Municipal do Barreiro. A visita é gratuita mas as inscrições são obrigatórias.

Quando: dia 3 de Fevereiro entre as 10h00 e as 12h00

Anilhagem científica de aves no Paul de Tornada: conheça algumas das aves que habitam o paul, descubra como se faz anilhagem (apenas pode ser feita por anilhadores certificados) e como é que ela permite obter informações acerca das migrações, estado das aves e das suas populações. O Paul de Tornada organiza ainda outras duas actividades para o público em geral: “Laboratório Stop Motion” e “Os Segredos do Paul de Tornada”.

Quando: dia 3 de Fevereiro entre as 08h00 e as 12h00

Passeio para descobrir as aves das Alagoas Brancas

Quando: 4 de Fevereiro das 11h00 às 14h00

À Descoberta do Paul do Boquilobo: passeio interpretativo para conhecer a biodiversidade (flora e fauna) da Reserva Natural do Paul do Boquilobo, a partir dos diversos trilhos existentes onde é possível observar a fauna e a flora envolventes. A atividade será acompanhada pela Associação 30porumalinha. A duração prevista é de 3:30 h, num percurso de cerca de 6 km.

Quando: 4 de Fevereiro das 09h30 às 12h30

Caminhada “Pateira de Fermentelos: importância e conservação de um património inestimável!”: passeio para conhecer a biodiversidade da Pateira de Fermentelos e a necessidade da sua preservação. Além de identificar e registar as espécies encontradas durante o percurso com o aplicativo iNaturalist, pode conhecer algumas das espécies que por ali habitam nesta época do ano.

Quando: 3 de Fevereiro das 10h00 às 12h00

Restauro da galeria ripícola do rio Estorãos (Ponte de Lima)

Quando: 2 de Fevereiro das 09h00 às 16h00

À descoberta das Zonas Húmidas do Parque da Devesa: actividades para explorar e descobrir, em família, as zonas húmidas e a sua importância na preservação da água, da vida selvagem e na sustentabilidade do planeta.

Quando: 4 de Fevereiro das 10h00 às 12h00


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.