Primavera: sete coisas a acontecer na natureza que pode procurar

Início

A primavera é uma das estações do ano mais entusiasmantes. Entre as migrações, mais épicas ou mais curtas, a defesa de territórios, a preparação de ninhos, as cortes nupciais, o cuidar de crias pequeninas e ainda a chegada da floração para muitas espécies botânicas, há muito no mundo natural a acontecer. Aqui ficam sete acontecimentos para testemunhar.

Abelharuco: o regresso tão esperado

Dois-abelharucos-estão-pousados-em-cima-de-um-ramo
Abelharucos (Merops apiaster). Foto: Dûrzan / Wiki Commons

Em Abril, os abelharucos (Merops apiaster) já cá estão. Estão de volta depois de vários meses de ausência, passados longe, no continente africano. Com as suas cores tão garridas, enchem de vida os céus de Portugal. Os abelharucos são particularmente fáceis de ver durante o acasalamento e a fase inicial de construção dos ninhos. Para isso, escavam túneis que podem ter até dois metros de comprimento em barreiras arenosas e que terminam numa pequena câmara onde põem os ovos e cuidam das crias. Também podemos observar estas aves na fase de alimentação das crias. Mas é necessário ter muito cuidado, porque são aves muito sensíveis à perturbação. Procure-os pousados em linhas eléctricas ao longo de estradas ou em voo, normalmente a caçar insectos.

Morcegos: a todo o gás

Morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus). Foto: Gilles San Martin/Wiki Commons

Lagartas, melgas e mosquitos, tenham cuidado. Depois de vários meses de hibernação, os morcegos estão agora activos e em voo, à procura de alimento. Podem comer até um milhar de insectos por noite. Em Portugal há 27 espécies de morcegos, mas uns são mais fáceis de ver do que outros. Uma das espécies que pode ver mais facilmente é o morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus). Podemos vê-lo até nas cidades, por exemplo, a voar à volta dos candeeiros ou da copa das árvores. Estes são morcegos fissurícolas, isto é, abrigam-se debaixo de telhas e em fissuras nos edifícios, mesmo com apenas alguns milímetros de largura. Por isso, as cidades são bons refúgios para estes morcegos.

Texugos: as primeiras explorações das pequenas crias

Texugo (Meles meles). Foto: Caroline Legg/WikiCommons

Todos os anos é assim. No mês de Abril, as crias de texugo (Meles meles) saem pela primeira vez das tocas. Depois de várias semanas nos seus refúgios subterrâneos, as crias mal podem esperar para descobrir o mundo cá fora. As suas brincadeiras e curiosidade por tudo o que as rodeia é uma das maravilhas da estação. As crias nascem a partir de Fevereiro, passadas cinco a sete semanas de gestação, em ninhadas com um a cinco animais. Com cerca de um mês de idade abrem os olhos e são amamentadas pela mãe durante cerca de dois meses. 

Gladíolos silvestres ou calcinhas-de-cuco:

Gladíolos silvestres ou calcinhas-de-cuco. Foto: Krzysztof Ziarnek/WikiCommons

É entre Março e Maio que as plantas da espécie Gladiolus italicus costumam florescer, exibindo umas vistosas flores cor-de-rosa-lilás. Estas têm uma forma tubular e surgem acima das folhas, numa inflorescência que faz lembrar espigas. Pode procurá-las em searas, pousios e prados secos, clareiras de matos baixos xerofilicos em solo calcário ou basáltico no Centro e Sul do país.

Cantarelos: cogumelos que (também) frutificam na Primavera

Cantarelos (Cantharellus cibarius). Foto: Andreas Kunze/WikiCommons

Nem todos os cogumelos aparecem no Outono e Inverno. A Primavera também pode fazer as delícias de quem gosta de procurar estas espécies fantásticas. Uma das espécies que podemos ver agora são os cantarelos. Talvez uns dos mais conhecidos sejam os Antharellus cibarius, também apelidados de rapazinhos. Estes cogumelos frutificam tanto no Outono como na Primavera, normalmente por baixo de carvalhos, mas também ao pé de pinheiros. São amarelos ou alaranjados e pequeninos, com um cheiro doce, com pregas em vez de lâminas por baixo do chapéu.

Azul-comum: a borboleta de asas azuladas

Borboleta Polyommatus icarus. Foto: Kristian Peters / Wiki Commons

A azul-comum (Polyommatus icarus) é uma borboleta que está em voo entre Março e Outubro. Gosta de prados floridos, jardins, matos e clareiras de florestas. O macho tem as asas azuladas, mas as da fêmea apresentam um tom castanho alaranjado. Estas borboletas pertencem à família das Lycaenidae e são comuns em Portugal. Uma boa razão para fazer um passeio de Primavera.

Cágados: animais em grande actividade

Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa). Foto: Bernard Dupont/WikiCommons

A melhor altura do ano para observar estes animais será durante os meses de Abril e Maio, pois é quando uma maior quantidade de animais se expõem ao sol e são por isso mais fáceis de observar. Os cágados realizam a cópula na Primavera e as posturas entre os meses de Maio a Julho. Em Portugal existem duas espécies autóctones: o cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) e o cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa). O cágado-de-carapaça-estriada está Em Perigo de Extinção por causa da perda do habitat, da concorrência de espécies exóticas, da poluição e captura para fins comerciais; o cágado-mediterrânico não está ameaçado mas a perda de habitat é um problema que poderá levar a um declínio populacional. 


Junte-se a nós.

Partilhe as suas observações e descobertas de Primavera para o email [email protected]. Vamos fazer um retrato para mostrar como é a Primavera nas várias regiões do nosso país.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.