Antárctida. Foto: Robin M./Pixabay
Antárctida. Foto: Robin M./Pixabay

Águas da Antárctida poluídas com medicamentos e cocaína

Cafeína, cocaína, ibuprofeno e paracetamol passaram a fazer parte das águas da Península Antárctida, revela o primeiro estudo à presença de medicamentos e drogas ilegais naquela região.

 

Durante o trabalho de campo, os investigadores recolheram amostras em dez locais especialmente sensíveis da Península Antárctida por causa da actividade turística, cada vez mais frequente na região, e da presença de investigadores científicos.

A equipa de investigadores da Universidade Rey Juan Carlos, de Madrid, do Instituto Geológico e Mineiro de Espanha e do Instituto Nacional da Água da Argentina encontraram 12 dos 46 medicamentos alvo deste estudo, no âmbito do qual foram publicados dois artigos científicos.

O grupo de anti-inflamatórios e analgésicos (ibuprofeno, diclofenaco e acetaminofeno) foram os encontrados em maiores concentrações. Entre as substâncias de uso recreativo, os níveis de cafeína são os mais elevados, seguidos pela efedrina, usada para fins médicos, segundo o artigo publicado na revista Environmental Pollution.

Encontraram também metais pesados, principalmente alumínio, substância que interfere com o funcionamento de diversas hormonas e com os sistemas neurológico e reprodutivo.

Estas substâncias com origem humana foram encontradas, muitas vezes, em quantidades semelhantes às registadas nas águas continentais de outras partes do mundo, explica o artigo científico publicado na revista Environmental Research.

De acordo com os investigadores, os contaminantes estão a chegar à Antártida através de águas residuais sem tratamento, incineração de resíduos e a geração dispersa de resíduos.

O próximo passo é tentar perceber quais as consequências da presença destes poluentes para os organismos aquáticos da Antárctida. “As condições climáticas especiais do continente antárctico, com frios extremos na maior parte do ano, poderão retardar ou dificultar os processos de degradação microbiana e fotodegradação deste tipo de contaminantes”, explicou, em comunicado, Luis Moreno, co-autor do artigo e investigador do Instituto Geológico e Mineiro de Espanha. Isto terá como consequência que esses poluentes persistam mais tempo no meio aquático, acrescentou.

Os investigadores defendem a criação de sistemas de vigilância e de protocolos de regulação e limitação ou proibição do uso destas substâncias. “Também seria necessário aprofundar a caracterização da sensibilidade toxicológica destes contaminantes nas espécies da Antárctida para determinar os riscos de forma adequada”, sugere a co-autora do estudo Yolanda Valcárcel, da Universidade Rey Juan Carlos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.