Urso-polar. Foto: Gerhard G./Pixabay

Maioria dos ursos-polares poderá extinguir-se até 2100

É grande a probabilidade da maioria das populações desta espécie colapsarem até ao final do século se as alterações climáticas se mantiverem ao ritmo actual, alerta um novo estudo da Universidade canadiana de Toronto.

 

O estudo, publicado a 20 de Julho na revista Nature Climate Change, mostra como a perda do gelo do mar Árctico afecta a capacidade dos ursos-polares (Ursus maritimus) para se reproduzirem e sobreviverem, uma vez que estes animais terão de aguentar períodos mais longos sem alimento.

A investigação estudou todas as populações de ursos-polares em três das quatro eco-regiões do Árctico, o que representa cerca de 80% da actual população mundial da espécie. Para os restantes 20% ainda não há dados suficientes.

“O gelo do mar Árctico vai continuar a desaparecer à medida que o mundo continua a aquecer”, disse em comunicado Péter Molnár, o autor principal do estudo e professor assistente do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Toronto.

“Isto significa que todas as populações de urso-polar vão enfrentar longos períodos sem alimento e isto vai afectar a capacidade para se reproduzirem, sobreviverem e para se manterem enquanto populações saudáveis.”

Segundo projecções recentes sobre o gelo no mar, vastas regiões do arquipélago do Árctico canadiano ficarão sem gelo durante mais de cinco meses por ano até ao final deste século; em outras zonas do Árctico, essa fronteira dos cinco meses pode ser ultrapassada já em meados deste século.

A maior parte da dieta alimentar dos ursos-polares consiste em focas, as quais só conseguem caçar a partir do gelo no mar. Mas à medida que este gelo derrete, os ursos têm menos tempo para caçar, o que significa alimentarem-se menos e ganharem menos peso.

Até agora, explicou Molnár, tem sido difícil ter boas estimativas sobre quando os números de ursos-polares vão começar a entrar em declínio nas diferentes regiões onde vivem. Isto porque ainda não havia dados que ligassem a disponibilidade de gelo ao seu impacto na demografia deste animais.

Agora, este estudo apresenta datas possíveis para o impacto da perda do gelo do mar Árctico na capacidade de sobrevivência desta espécie, crucial para manter o equilíbrio do ecossistema do Árctico e de grande importância para os povos indígenas locais.

Já em 2015, uma avaliação ao estado de conservação do urso-polar, feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), apontou a perda do gelo do mar, por causa das alterações climáticas, como a maior ameaça à sobrevivência da espécie.

Molnár, especialista no impacto das alterações climáticas nos grandes mamíferos, e a sua equipa analisou a fisiologia dos ursos-polares para descobrir quantos dias um urso-polar consegue sobreviver sem alimento – e alimentar as suas crias – se tiver uma determinada quantidade de energia armazenada no seu organismo no início de cada período de jejum. Sabendo quantos dias estes animais conseguem passar sem comer, os cientistas usaram depois projecções de modelos climáticos relativos à perda de gelo para descobrir qual a duração dos futuros períodos de jejum em cada população de ursos-polares.

As conclusões a que chegaram são muito preocupantes. Se as alterações climáticas continuarem ao ritmo actual até ao final do século, “podemos esperar que a perda de gelo do mar Árctico conduza a declínios muito acentuados na reprodução e sobrevivência em quase todas as populações”, alerta o mesmo comunicado.

Na verdade, hoje já há populações que estão para lá do limite no que concerne à falta de alimento, como por exemplo na Baía Hudson, em Nunavut e no Ontário.

“Apesar de as nossas projecções para o futuro dos ursos-polares parecerem sombrias, infelizmente podem até ser muito optimistas”, alertou Molnár. “Por exemplo, assumimos que os ursos-polares irão optimizar ao máximo a energia no seu organismo. Se isso não for o caso, a realidade pode ser pior do que as nossas projecções.”

Actualmente, o urso-polar está classificado como Vulnerável pela Lista Vermelha da UICN.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.