Cria de águia-caçadeira. Foto: João Santos/ICNF

ICNF pede a agricultores que identifiquem ninhos de águia-caçadeira antes das ceifas

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) está a pedir aos agricultores para que identifiquem e informem dos ninhos de águia-caçadeira, espécie do qual já só restam 200 casais em Portugal, que encontrem antes das colheitas.

A águia-caçadeira (Circus pygargus), também conhecida como tartaranhão-caçador, é uma espécie que está reduzida a menos de 200 casais, segundo o primeiro censo nacional desta espécie cujos resultados foram revelados em Novembro passado. 

A maioria dos casais faz os ninhos no solo, sobretudo em campos de cereais. Por isso, o ICNF considera “essencial que, caso localizem ninhos, os agricultores contactem o ICNF através das respetivas direções regionais”.

Cria de águia-caçadeira. Foto: João Santos/ICNF

“Esta identificação é crucial para que o ICNF realize o resgate e salvamento de ovos e crias de águia-caçadeira”, lembra, em comunicado.

A águia-caçadeira ocorre enquanto reprodutora na Eurásia e Norte de África, desde a Península Ibérica e Marrocos, até cerca do paralelo 60, no sul da Sibéria e Ásia Norte-central. Inverna na África subsariana, principalmente no Sudão, Etiópia e Leste de África e também no subcontinente Indiano.

Em Portugal, a espécie surge como nidificante em especial na metade Este do país, nomeadamente nas planícies do Alentejo e nos planaltos serranos do centro-leste e norte.

Foto: Carlos Carrapato/ICNF

A alteração das culturas e das práticas agrícolas e pecuárias da última década terão contribuído para o declínio acentuado da espécie, um fez que prejudicam os locais de nidificação e consequentemente o sucesso reprodutor.

Além da intervenção no habitat natural (in-situ), o programa de resgate e salvamento inclui também uma componente de conservação fora do ambiente natural (ex-situ), com a recolha dos ovos mais expostos a predação e outras ameaças.

O processo de incubação implica a monitorização constante da perda de peso de cada ovo a cada 48 horas, para serem incubados com a humidade adequada e assim maximizar o sucesso da operação. Após o nascimento, inicia-se a fase de alimentação das crias, que se realiza em ciclos de quatro a cinco refeições diárias, em ambiente climatizado.

Foto: João Santos/ICNF

Após os primeiros 15 dias, as crias são transferidas para uma jaula em meio natural, onde são ambientadas para posterior devolução à natureza (hacking).

Os juvenis são depois anilhados para identificação e reconhecimento dos exemplares libertados e são colocados emissores para que seja possível seguir as suas rotas migratórias até ao seu destino de inverno em África.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.