Foto: David Perez/Wiki Commons

Alterações climáticas: Todos os graus centígrados contam para os animais de sangue frio

Um estudo da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, concluiu que os répteis e outros animais ectotérmicos são bastante mais vulneráveis do que se pensava a um aumento de temperaturas global.

 

Os resultados da investigação foram agora publicados na Nature. Também conhecidas como animais de sangue frio, em causa estão espécies que dependem de fontes externas para regular a sua temperatura corporal e os seus processos bioquímicos, como as cobras e os lagartos, mas também as formigas e as moscas, por exemplo.

Os cientistas já sabiam que os animais deste grupo, devido à dificuldade que têm para controlar a temperatura interna, costumam ficar limitados a “habitats com temperaturas permissivas”, explica uma nota de imprensa sobre o estudo. Embora estas espécies “consigam tolerar temperaturas stressantes até um certo nível”, essa capacidade “é limitada pela duração e intensidade do stress causado pelo calor”.

Mas segundo os resultados desta nova investigação, a partir dos dados avaliados para um total de 112 espécies ectotérmicas, o ritmo dos processos pelos quais estes animais entram em coma ou morrem devido ao calor (falha por calor ou ‘heat failure’, no original em inglês) aumenta mais de 100% por cada grau centígrado de subida da temperatura.

Como resultado, avisa o artigo agora publicado, o aumento que está hoje previsto para a frequência e intensidade das ondas de calor pode “exacerbar as mortes devido ao calor para muitas espécies ectotérmicas, com consequências severas e desproporcionadas”.

A equipa de cinco cientistas da Universidade de Aarhus, liderados por Johannes Overgaard, prevê que mesmo cenários moderados de subida das temperaturas em 2100 poderão aumentar as taxas de falha por calor em 774% para animais ectotérmicos terrestres e em 180% para animais ectotérmicos aquáticos, em 2100. “Estes achados sugerem que podemos estar a subestimar o impacto potencial de um cenário de aquecimento global, mesmo que seja modesto”, alertam.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.