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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

Centenas de cientistas exigem à UE que proteja a vida nos oceanos

Mais de 300 cientistas escreveram uma carta ao comissário europeu com a pasta para pedir que proteja as espécies marinhas e acabe com a sobrepesca.

Na União Europeia (UE), pelo menos 38% dos stocks pesqueiros no Atlântico Nordeste e no Mar Báltico estão a ser sobre-explorados; no Mar Mediterrâneo e no Mar Negro essa percentagem é de 87%.

“A sobrepesca reduz a biomassa dos peixes, afecta a biodiversidade, altera a cadeia alimentar marinha e degrada os habitats marinhos. Tudo isto torna o ecossistema marinho mais vulnerável aos efeitos das alterações climáticas”, escrevem os cientistas na carta.

O documento, enviado na semana passada a Virginijus Sinkevičius – comissário europeu para o Ambiente, Oceanos e Pescas -, pede também ao Parlamento Europeu e aos Estados-Membros da UE para acabar com a sobrepesca “como uma resposta urgente e necessária à crise climática e da biodiversidade”.

“Sobrepescar significa tirar mais peixes da água do que os que podem voltar a aparecer e crescer”, lembrou Rainer Fröse do GEOMAR – centro Helmholtz de investigação oceânica em Kiel, Alemanha.

“Para ser honesto, isso não faz muito sentido, porque então os stocks encolhem e os stocks pequenos apenas conseguem suportar capturas reduzidas. Isso não faz sentido nenhum; não ajuda os pescadores, não ajuda os peixes, não ajuda ninguém. Tem também um impacto no clima; os stocks pesqueiros muito pequenos não conseguem cumprir o seu papel no ecossistema. Se o ecossistema não funcionar corretamente, não consegue “respirar” corretamente e não absorve o CO2 de adequadamente.”

Os cientistas acreditam que “a gestão das pescas baseada nos ecossistemas é crítica para a saúde do oceano e para a sua capacidade de responder às alterações climáticas”.

Ao contrário da gestão tradicional das pescas, que se concentra na gestão de espécies únicas, a Gestão da Pesca com Base no Ecossistema (EBFM, na sigla em inglês) aborda todos os impactos ambientais, ecológicos e antrópicos (incluindo pesca) num ecossistema e leva em consideração a interdependência entre os elementos que dele fazem parte.

A carta, que tinha sido assinada por 316 cientistas até 14 de Setembro, também foi entregue aos ministros das pescas dos Estados-Membros da União Europeia (UE), antes de serem definidos os limites anuais de pesca para 2021, e aos membros do Parlamento Europeu que estão a preparar a sua resposta à Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030.

declaração, assinada por nomes importantes no campo das ciências marinhas, incluindo mais de 30 cientistas portugueses, foi entregue na semana passada ao Comissário da UE Virginijus Sinkevičius pela Our Fish.

“A sobrepesca e as capturas acidentais são os maiores responsáveis ​​pela perda de biodiversidade no meio marinho”, disse Alex Rogers, director de Ciência na Rev Ocean. “Precisamos de um oceano saudável e produtivo, e acabar com a sobrepesca é fundamental. Isto é ainda mais importante quando nos confrontamos com os efeitos das alterações climáticas, que afetam todo o oceano, incluindo os próprios stocks de peixes.”

“A ciência é clara – a UE deve garantir que um oceano saudável é fundamental para a sua resposta à crise climática e da natureza – e isso significa pôr finalmente um fim à sobrepesca”, disse Rebecca Hubbard, directora de Programa da Our Fish.

“Tal como com a nossa saúde, se continuarmos a agredir o oceano mantendo a sobrepesca, todo o sistema irá sair ainda mais enfraquecido, até deixar de ter capacidade de nos suportar com aquilo de que necessitamos: oxigénio, regulação do clima, alimentação e empregos. A UE tem que parar de arrastar os pés e tomar esta ação clara e decisiva agora, antes que seja tarde demais”, concluiu Hubbard.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.