O cientista português em Madagáscar. Foto: Joan de la Malla

Cientista português recebe prémio internacional dedicado à conservação da natureza

Ricardo Rocha foi distinguido com o prémio European Early Career Conservation Award, que reconhece o trabalho de cientistas em início de carreira na área da conservação da natureza.

 

O prémio foi atribuído ao cientista português pela Society for Conservation Biology e resulta “do relevante contributo do seu trabalho para a conservação na natureza, bem como do seu incentivo a uma comunidade científica mais diversa”, anunciou o CIBIO-Inbio – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, ligado à Universidade do Porto.

“Este prémio reconhece o trabalho de cientistas em início de carreira na área da conservação da natureza e visa inspirar uma nova geração de investigadores dedicados à salvaguarda da biodiversidade e à minimização dos impactos das alterações globais”, adianta um comunicado do CIBIO-InBIO, onde Ricardo Rocha trabalha actualmente como investigador.

A Society for Conservation Biology reúne profissionais e estudantes dedicados ao avanço da ciência e que trabalham com práticas de conservação ligadas à protecção da biodiversidade no planeta. Esta organização internacional sem fins lucrativos é também responsável pela publicação de três das mais influentes revistas científicas na área, entre as quais a Conservation Biology.

“Como não poderia deixar de ser, estou muito feliz e honrado pelo prémio, mas tenho claro que mais do que reflectir o meu trabalho individual, esta distinção reconhece o facto de ao longo dos últimos anos ter tido muitos e excelentes colaboradores”, reagiu o cientista, citado em comunicado.

 

Ricardo Rocha no Quénia. Foto: Adrià López-Baucells

 

“Acho esta distinção particularmente importante porque foram muito poucos os cientistas portugueses de origem africana com que me cruzei enquanto estudava. Ter conseguido este prémio é sem sombra de dúvidas uma mais-valia para o meu futuro profissional, mas é também um reflexo que a ciência e a conservação da natureza em Portugal e na Europa podem ser mais diversas.”

 

Amazónia, Madagáscar e Madeira

Ricardo Rocha concluiu em 2017 o doutoramento em Biologia da Conservação pelas Universidades de Lisboa e de Helsínquia. A sua tese, resultante de mais de dois anos e meio de trabalho na Amazónia brasileira, foi nesse mesmo ano distinguida com o Prémio de Doutoramento em Ecologia Fundação Amadeu Dias, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Ecologia.

Entre 2017 e 2019 foi investigador de pós-doutoramento no Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge, onde trabalhou num projetco que tem como objectivo sintetizar informação relativa às melhores práticas de conservação de natureza a nível mundial.

Agora, está envolvido num segundo pós-doutoramento com o objectivo de estudar a ecologia de morcegos no arquipélago da Madeira e o seu papel no controlo de insetos nefastos para a agricultura. Este projecto está a ser desenvolvido no CIBIO-InBIO.

“Com um percurso profissional diverso, tem conciliado a sua carreira científica com variadas colaborações relacionadas com a sensibilização, educação ambiental e conservação da natureza. No campo científico, tem mais de 40 artigos publicados, a sua maioria no domínio da ecologia tropical, tendo realizado importantes descobertas relacionadas com o efeito da fragmentação da floresta Amazónica nas populações de morcegos”, destaca o mesmo comunicado.

 

Ricardo Rocha na Amazónia. Foto: Milou Groenenberg

 

Uma parte considerável do trabalho deste investigador português focou-se em Madagáscar, onde participou em estudos sobre o efeito da expansão agrícola nas comunidades de aves da ilha e sobre a avaliação da eficácia das áreas protegidas na protecção da floresta nativa.

Mais recentemente fez parte da equipa que mostrou que os morcegos deste país consomem vários insectos praga e, consequentemente, podem prestar serviços valiosos aos agricultores locais.

Colabora com várias ONGs nacionais e internacionais de conservação da natureza e é membro fundador da Associação Portuguesa de Herpetologia. Ainda como estudante, colaborou com vários projetos de educação ambiental, de onde se destacam o programa Programa Eco-Escolas e Jovens Repórteres para o Ambiente.

Nas áreas da sensibilização e divulgação ambiental, fez parte do conselho editorial da revista “Pardela” publicada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e é autor do primeiro guia de campo para os morcegos da Amazónia. Mais recentemente, foi consultor científico do livro “Wild in the City”, publicado pela Lonely Planet, destinado a encorajar as crianças a descobrir a natureza no meio urbano.

No que toca à promoção da diversidade na ciência e na conservação, Ricardo fez parte do comité para a Igualdade, Diversidade e Inclusão da Society for Conservation Biology e ajudou a implementar uma rede de investigadores pertencentes a minorias étnicas na Universidade de Cambridge.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais

Leia aqui duas entrevistas a Ricardo Rocha e a Adrià López-Baucells, que colaboraram entre si em vários projectos ligados aos morcegos, publicadas na Wilder em 2019.

E recorde um artigo científico em que Ricardo Rocha foi autor principal, que alerta para a ameaça que os montinhos de pedras podem constituir para a biodiversidade.

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.