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Borboleta Euphydryas aurinia, uma das espécies protegidas na Europa e em Portugal. Foto: Gilles San Martin/Wiki Commons

Cientistas de todo o mundo criam roteiro para salvar os insectos

Uma equipa internacional de mais de 70 cientistas, incluindo investigadores portugueses, lançou esta segunda-feira um roteiro com medidas necessárias e urgentes para travar o declínio mundial dos insectos.

 

Nos últimos anos, diversos estudos científicos têm demonstrado que há cada vez menos insectos e que a variedade de espécies está também a diminuir, de forma drástica.

Hoje acredita-se que mais de 40% das espécies de insectos estão ameaçadas de extinção, o que a continuar poderá ter consequências catastróficas para os ecossistemas do planeta e para a sobrevivência dos humanos.

Os cientistas sabem que as causas se devem à acção humana. Por exemplo? Destruição e fragmentação de habitats essenciais para os insectos, introdução de espécies invasoras, alterações climáticas.

Por ser urgente a tomada de medidas, num artigo publicado agora na revista Nature Ecology and Evolution, esta equipa internacional de cientistas apela aos governos de cada país para que adoptem várias medidas, incluindo acções que podem ser desde já tomadas e outras pensadas para o médio e o longo prazo.

 

 

“Torna-se urgente manter a diversidade da paisagem, construir corredores ecológicos e evitar a proliferação de espécies invasoras que alteram os habitats”, explica Paulo Borges, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, na Universidade dos Açores.

“Com as alterações climáticas, também é necessário redesenhar muitas áreas protegidas. Finalmente, é necessário manter a monitorização da abundância e diversidade dos insetos nas áreas naturais e nos ecossistemas agrícolas e florestais”, indica o cientista português, um dos signatários portugueses deste roteiro, citado num comunicado do cE3c.

Os passos a serem tomados de imediato estão relacionados com medidas que não dependem de novos conhecimentos, pois não irão beneficiar uma espécie ou conjunto de espécies em particular. Reduzir a poluição luminosa, na água e sonora e também substituir o uso de pesticidas por medidas ecológicas são outras acções indicadas.

 

Os pesticidas são hoje uma das maiores ameaças conhecidas para as abelhas. Foto: Suzanne D. Williams/Pixabay

 

Urgente é também fazer mais investigação sobre a situação dos insectos a nível mundial, alargando por exemplo o número de espécies avaliadas segundo os critérios da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, que avalia o risco de extinção. Isto para se conseguir “definir espécies e regiões prioritárias e quais são os problemas”, aponta o novo documento.

Também a médio prazo precisa-se de mais investigação, necessária para perceber quais são os factores de stress e o que estão a causar e para preencher lacunas no conhecimento.

Essa acção deve estender-se também às colecções entomológicas guardadas em museus. “Isso pode preencher as falhas dos nossos dados sobre a diversidade no passado, que são uma base essencial de referência”, explica por sua vez o coordenador deste roteiro, Jeff Harvey, do Instituto de Ecologia da Holanda.

 

Pormenor da colecção entomológica da Universidade de Coimbra. Foto: Joana Bourgard

 

E a longo prazo?

Já mais longe no tempo, os cientistas apelam à formação de parcerias público-privadas e ao lançamento de iniciativas financeiras que restaurem e criem habitats para os insectos.

E mais uma vez, o grupo pede aposta na investigação. Neste caso com a criação de um programa mundial de monitorização, coordenado por um novo organismo internacional, que aplique os mesmos métodos sempre nos mesmos locais, numa escala de tempo alargada.

“É preciso agir já. As evidências que já existem sobre algumas das principais causas do declínio de insectos são suficientes para nos permitir formular medidas imediatas”, sublinha Paulo Borges.

“Os resultados da investigação que continua a ser desenvolvida, sobre espécies e regiões menos conhecidas, vão permitir modificar e melhorar as medidas já implementadas se necessário. Mas é fundamental agir já, caso contrário pode tornar-se demasiado tarde”, conclui.

Entre dezenas de investigadores da Europa, América, Ásia, África e Oceânia, o novo roteiro é assinado por Dave Goulson, autor conhecido nesta área, e Hans de Kroon, responsável por vários estudos sobre o declínio da biomassa de insectos.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Saiba o que andam a fazer os investigadores da Lista Vermelha dos Invertebrados, trabalho que inclui avaliar a situação de centenas de espécies de insectos em Portugal Continental, aqui.

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.