Correntes oceânicas podem travar ou aumentar diversidade das florestas de mangal, revela estudo

Mangais. Foto: Shagil Kannur/WikiCommons

Guardiães das zonas costeiras, as florestas de mangal têm maior diversidade de espécies se as correntes oceânicas ajudarem os fluxos genéticos entre populações, revela hoje um novo estudo liderado por investigadores portugueses.

As florestas de mangal distribuem-se ao longo das regiões costeiras tropicais e subtropicais.

Ajudam a sequestrar carbono, a proteger as zonas costeiras da erosão e são habitat para inúmeras espécies de plantas e de animais.

No entanto, os mangais estão ameaçados pelas alterações climáticas, pela desflorestação e pela poluição.

Mangais. Foto: Shagil Kannur/WikiCommons

“É urgente gerir e conservar as florestas de mangal à escala global e para isso é necessário compreender os fatores que determinam a distribuição da sua diversidade”, explicou hoje, em comunicado, o Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR).

Este Centro liderou uma equipa internacional de investigadores que estudaram a influência das correntes oceânicas na diversidade destas florestas de mangal.

Segundo o artigo, publicado no final de Março na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, as correntes oceânicas “têm um papel primordial na regulação da diversidade genética das florestas de mangal à escala global, com implicações para a sua conservação”.

Os investigadores desenvolveram modelos biofísicos à escala global que permitiram estimar até que ponto as populações de mangal estão interligadas ou isoladas pelos padrões das correntes oceânicas. Estas estimativas quando comparadas com informação sobre a diversidade genética de milhares de populações, de dezenas de espécies de mangal, permitiram concluir que a direção e intensidade das correntes oceânicas são determinantes para a diversidade das florestas de mangal.

“Os resultados que obtivemos mostram que as correntes oceânicas têm um papel fundamental na diversidade genética dos mangais, permitindo ou interrompendo o fluxo genético entre populações” explicou Lidiane Gouvêa, investigadora do CCMAR e primeira autora do estudo.

Mangais. Foto: Ron/WikiCommons

“O nosso estudo tem implicações para a conservação e gestão dos mangais num contexto de alterações climáticas, pois potenciais alterações na direção e intensidade das correntes oceânicas podem levar ao isolamento das populações e impedi-las de trocar genes. Com o tempo, esse isolamento poderá levar a uma diminuição da diversidade genética das populações, aumentando o risco da sua extinção, o que tem implicações diretas para as comunidades de países tropicais que dependem diretamente das florestas de mangal”, disse, por seu lado, Jorge Assis, investigador do CCMAR e autor sénior do estudo.

Os investigadores defendem a “necessidade urgente de proteger estes ecossistemas e espécies que neles habitam e dependem”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.