Criado o primeiro observatório ibérico para conservar os rios

canoa no rio tejo
Foto: Joana Bourgard/arquivo

Mais de 50 especialistas em Ecologia reuniram-se em Sevilha para criar um observatório ibérico para obter novos dados e ferramentas que ajudem a conservar os rios e a mitigar os efeitos das alterações climáticas.

Hoje, mais de metade dos rios ibéricos estão degradados pela poluição da água e por espécies invasoras. Mas este é um cenário que deverá piorar, tendo em conta as secas e o aumento das temperaturas, uma consequência das alterações climáticas, alertam os especialistas.

O encontro, que aconteceu a 21 e 22 de Março na Estação Biológica de Doñana (EBD-CSIC), reuniu investigadores de Espanha, Portugal e França e responsáveis pela gestão de várias bacias hidrográficas espanholas, revelou ontem, em comunicado, a EBD-CSIC. Este foi o ponto de partida para o lançamento do Observatório Ibérico Fluvial e para criar as bases para uma nova forma de avaliar a saúde dos rios da Península Ibérica.

O projecto vai combinar a experiência de taxonomistas e técnicas moleculares para caracterizar, de forma inédita, a biodiversidade dos rios ibéricos, incluindo aves, peixes, algas, invertebrados e micróbios.

O Observatório terá ainda outra equipa que vai avaliar as funções ecológicas que proporcionam os rios, desde a produção de peixes à depuração das águas, passando pela regulação do clima.

“Este é um projecto inovador e, certamente, único, já que será um dos primeiros observatórios a grande escala que permitirá entender de que forma as alterações climáticas, e outros impactos humanos, podem afectar a saúde dos rios e os benefícios que estes dão à sociedade”, comentou Cayetano Gutiérrez Cánovas, investigador da EBD-CSIC e coordenador do observatório.

O Observatório abrange seis áreas de estudo que cobrem as diferentes zonas climáticas da Península Ibérica, desde as zonas áridas do Sul até à Cordilheira da Cantábria. Em todas elas será feito um seguimento anual para compreender as dinâmicas a longo prazo dos ecossistemas fluviais.

“Melhorar a saúde dos rios tem um impacto directo na saúde e bem-estar das pessoas e na economia, sem esquecermos que é um imperativo legal como resultado da aplicação a Directiva Quadro da Água”, lembrou Gutiérrez.

Segundo este responsável, “rios saudáveis e com mais biodiversidade vão atrair mais turistas a zonas rurais, já que terão águas de melhor qualidade e mais peixes”. Além disso, acrescentou, “melhorar a saúde dos nossos rios permitirá reduzir os custos com a depuração e com o processo de tornar a água potável e ainda ajudar a mitigar as inundações e as ondas de calor”.


Os artigos desta secção são apoiados pela SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.