Dara McAnulty, 16 anos, vence prémio britânico de escrita de natureza

Diary of a Young Naturalist venceu o Wainwright Prize 2020, prémio de escrita de natureza. Júri pede para o livro ser integrado na lista de livros aconselhados para as escolas britânicas.

Celebrando o legado do escritor naturalista britânico Alfred Wainwright, este prémio, que vai já na sétima edição, reflecte os seus valores, nomeadamente o inspirar as pessoas para explorar a natureza e promover o respeito e admiração pelo mundo natural.

A oito de Setembro foram revelados os vencedores da edição de 2020, numa cerimónia realizada online por causa do Covid-19.

Dara McAnulty, naturalista irlandês, venceu na categoria de escritores britânicos, com o livro Diary of a Young Naturalist, e Benedict Macdonald na categoria de Conservação Mundial, com a obra Rebirding – Restoring Britain’s Wildlife.

Diary of a Young Naturalist narra o dia-a-dia de Dara McAnulty que tinha, então, 15 anos. “O livro de Dara é um retrato extraordinário da sua intensa ligação ao mundo natural, ao mesmo tempo que é a sua perspectiva enquanto adolescente autista dos exames na escola e das amizades”, segundo um comunicado oficial.

Ao longo de um ano e a partir da sua região na Irlanda do Norte, Dara passou as quatro estações a escrever.

“Fui diagnosticado com Asperger/autismo quando tinha cinco anos… Aos sete anos sabia que era muito diferente. Acostumei-me ao isolamento. A minha incapacidade de me ligar ao mundo falando de futebol ou de Minecraft não era tolerada. Depois veio o bullying. A natureza tornou-se muito mais do que um escape; tornou-se um sistema de suporte de vida”, disse Dara McAnulty, em comunicado.

The Diary of a Young Naturalist é um livro de natureza significativo, ainda mais porque é o primeiro livro de Dara McAnulty, escrito quando ele ainda tinha 15 anos”, comentou Julia Bradbury, presidente do júri e apresentadora de televisão.

Este é um “maravilhoso diário que se encaixa nas aventuras de Dara e nas suas experiências familiares mas, principalmente, é moldado pela natureza que nos rodeia a todos”, acrescentou Julia Bradbury.

“Os membros do júri ficaram estupefactos ao ler o livro e gostariam de pedir para que fosse imediatamente integrado na lista nacional de livros escolares. Tal é o poder do livro para incentivar à acção para a situação de emergência que enfrentamos.”

Mike Parker ganhou uma menção honrosa nesta categoria com o livro On the Red Hill.

Este ano, na sua sétima edição, os prémios Wainwright passaram a ter uma segunda categoria, dedicada à Conservação Mundial e às alterações climáticas.

O grande vencedor foi Rebirding, de Benedict MacDonald. “Considerado “visionário” tanto por conservacionistas como por gestores de terrenos em zonas rurais, Rebirding é um manifesto pela recuperação da vida selvagem de Inglaterra, apostando num rewilding das suas espécies e na recuperação de postos de trabalho rurais. Para benefício de todos”, segundo o comunicado oficial.

“Rebirding é um livro sobre questões complexas e contenciosas”, comentou Charlotte Smith, presidente do júri para a categoria Conservação Mundial. “Leva em conta as necessidades das aves, como seria de esperar, mas também do futuro das comunidades rurais de uma forma interessante e envolvente.”

Irreplaceable, de Julian Hoffman, foi distinguido com uma menção honrosa nesta categoria.

O vencedor do ano passado foi Underland, de Robert Macfarlane.

Os vencedores desta edição recebem um prémio de 5.000 libras (cerca de 7.000 euros).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.