Descobrem que os ursos também usam sinais visuais para comunicar entre si

Um dos ursos-pardos estudados. Foto: Vincenzo Penteriani

Pela primeira vez, um estudo mostra evidências de que, além de comunicarem por sinais químicos, os ursos pardos (Ursus arctos) fazem sinais visuais para comunicar.

Os sinais visuais, como arrancar a casca de algumas árvores, são feitos apenas pelos machos adultos e estão relacionados com as necessidades reprodutivas da espécie, revelou esta investigação, liderada pelo Museu Nacional de Ciências Naturais (MNCN) de Madrid.

Um dos ursos-pardos estudados. Foto: Vincenzo Penteriani

Para este artigo, publicado hoje na revista científica Journal of Mammalogy, a equipa trabalhou com a população de urso-pardo da cordilheira cantábrica, nas províncias das Astúrias e Leão, utilizando câmaras de foto-armadilhagem e de vídeo.

As imagens obtidas permitiram analisar o comportamento de várias dezenas de indivíduos, entre eles 13 machos adultos responsáveis por deixar marcas nas árvores.

Uma das marcas deixadas pelos ursos. Foto: Vincenzo Penteriani

“Durante muito tempo pensou-se que a comunicação entre os mamíferos se limitava, essencialmente, à sinalização química e acústica”, explicou, em comunicado, Vincenzo Penteriani, investigador do MNCN. “Este trabalho experimental oferece, pela primeira vez, provas da existência de um novo canal de comunicação para esta espécie: a sinalização visual mediante a eliminação de parte da casca do tronco de árvores especialmente visíveis”, acrescentou.

Estas marcas visuais, que os ursos fazem arranhando e mordendo a casca das árvores, parecem ter um significado muito específico já que apenas são realizadas pelos machos adultos na época reprodutora.

A equipa acredita que estas marcas visuais podem dar informação sobre o tamanho do indivíduo. Esta é uma forma de mostrar o estatuto dominante de cada macho que procura fêmeas. Será uma informação que complementa as informações prestadas pelos sinais químicos que já se conheciam.

“Conhecer o significado desta forma de comunicação não apenas representa um avanço na nossa compreensão da comunicação animal, mas também pode servir para localizar mais facilmente as zonas frequentadas pelos ursos na época de reprodução”, explicou Penteriani. “Esta é uma informação crucial para os planos de conservação e gestão da espécie.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.