Urso-pardo. Foto: Frank Vassen/Wikimedia Commons

Estudo revela que regresso do urso-pardo a Portugal seria visto de forma positiva

Um estudo publicado na revista Conservation Science and Practice revela que vários grupos da sociedade consideram, no geral, positivo um eventual regresso do urso-pardo (Ursus arctos) a Portugal.

estudo “Perceptions and attitudes of stakeholders on the return of brown bears (Ursus arctos): Contributions from a workshop held in northern Portugal“, publicado a 26 de Dezembro de 2023, concluiu que vários grupos da sociedade – como académicos, investigadores, administração, organizações não governamentais de ambiente, gestores cinegéticos e da área do turismo e representantes de associações pecuárias e do setor florestal – consideram, no geral, positivo um eventual regresso do urso-pardo.

Esta espécie está atualmente extinta no nosso país mas ocorre na vizinha Espanha, onde a população Cantábrica tem vindo a expandir-se nos últimos anos.

Segundo a organização Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, que participou no estudo, esses grupos afirmaram que “se sentiriam seguros em áreas onde os ursos-pardos estivessem presentes”. Além disso, “têm uma visão positiva em relação ao regresso do urso-pardo a Portugal e avaliam essa possibilidade como uma oportunidade para o desenvolvimento local e não como uma ameaça”.

Para a organização, estes resultados “fornecem uma base de avaliação das perceções e atitudes relativamente ao urso-pardo importantes para a elaboração de um plano de conservação que prepare o eventual regresso da espécie ao território nacional”.

O urso-pardo extinguiu-se em Portugal em 1843, no século XIX. Somente no século XXI, na primavera de 2019, o registo de um urso-pardo macho foi oficialmente confirmado no norte de Portugal e “é provável que mais ursos façam incursões no nosso território num futuro próximo e possam, eventualmente, fixar-se no norte do país”.

Este estudo foi realizado com base num inquérito feito a 42 participantes do “Networking Event – E se o urso-pardo voltar?”, um evento ibérico que teve lugar em Outubro de 2021 em Bragança e cujo objetivo principal foi debater antecipadamente aquele que poderá ser um dos grandes desafios de conservação da natureza em Portugal: o potencial regresso do urso-pardo ao norte do país e a sua coexistência com o ser humano e lançar as fundações para futuras ações transfronteiriças de conservação da espécie no território nacional.

De acordo com o estudo, 83% dos inquiridos considerou o regresso do urso-pardo a Portugal algo provável de acontecer nos próximos 10 a 20 anos.

Estima-se que existam hoje entre 15.000 e 16.000 ursos-pardos na Europa Continental, excluindo Rússia e Bielorrússia.

Este evento foi organizado pela Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, em parceria com a AEPGA – Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, o Município de Bragança e o Instituto Politécnico de Bragança. 

A Palombar, criada em 2000, tem como missão conservar a biodiversidade, os ecossistemas selvagens, florestais e agrícolas e preservar o património rural edificado, bem como as técnicas tradicionais de construção. A sua área de intervenção é a região de Trás-os-Montes mas tem vindo a expandir o seu território de atuação. 


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.