Urso-pardo do Parque Natural Zlatibor, Sérvia. Foto: Neda Bogdanović

Proteger as áreas que ligam populações de urso-pardo é crucial para a sua sobrevivência, defendem cientistas

Cada vez mais ameaçado pelas actividades humanas, o urso-pardo precisa de ter áreas de ligação entre as suas populações de maior qualidade, defende uma equipa internacional num artigo publicado na revista Global Ecology and Conservation.

Uma equipa internacional de investigadores, na qual participou o Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN – CSIC), estudou as áreas de distribuição do urso-pardo (Ursus arctos) na Sérvia, o único país da Europa habitado por três meta-populações diferentes desta espécie, à procura das possíveis zonas de ligação entre elas.  

Os resultados, publicados na revista Global Ecology and Conservation, sublinham a necessidade de dirigir os esforços de conservação para essas áreas potenciais de ligação para favorecer a conectividade entre populações e assegurar a sobrevivência da espécie, cujo habitat está cada vez mais afectado pelas actividades humanas.

“Os ursos precisam de territórios muito grandes para sobreviver, por isso, a sua conservação assegura a protecção dos seus habitats e, indirectamente, a protecção das espécies com as quais coexistem”, comentou, em comunicado Alejandra Zarzo, investigadora do MNCN que participou no estudo.

“Esta característica da sua biologia também implica a necessidade de existirem corredores que liguem os seus territórios para poder favorecer o intercâmbio genético entre as populações”, acrescentou.

Ainda assim, alertou a investigadora, “as actividades humanas estão a fragmentar e a reduzir cada vez mais a integridade destas áreas, fazendo com que os ursos e outras espécies associadas ou semelhantes estejam numa situação de vulnerabilidade”.

Urso-pardo do Parque Natural Zlatibor, Sérvia. Foto: Neda Bogdanović

Para poder identificar estas ameaças e encontrar soluções de conservação, os investigadores consideram que é importante conhecer em profundidade os espaços onde vivem as diferentes populações, neste caso de urso-pardo.

“O local do estudo escolhido para isso foi a Sérvia, já que ali confluem três das maiores populações de urso-pardo da Europa: a de Este dos Balcãs, que tem cerca de 600 indivíduos; a dos Alpes Dináricos, con mais de 3000; e a dos Cárpatos, com mais de 7000 indivíduos”, explicou Zarzo. Esta população – que a Sérvia partilha com a Roménia, Ucrânia, Polónia e Eslováquia – é a maior população de ursos da Europa.

Segundo o Plano de Gestão nacional sérvio para o Urso, tem havido um aumento no número de ursos e no território das três populações na Sérvia. Mas não tem sido documentado nenhuma conectividade genética entre essas populações.

“Utilizando modelos informáticos de distribuição de espécies, determinámos quais as zonas que são mais adequadas para as populações de ursos e as possíveis áreas de conectividade entre elas”, acrescentou.

Segundo a investigadora, os resultados do estudo mostram que a selecção de habitat varia entre populações, dependendo da sua disponibilidade em cada zona. A investigação também concluiu que 60% das possíveis zonas favoráveis para os ursos na Sérvia continuam sem estar habitadas e que, no futuro, o Sudeste do país será crucial para potenciar a ligação entre as populações.

“O nosso trabalho também insiste na necessidade de mitigar os efeitos negativos que estruturas como as estradas produzem sobre o movimento das espécies”, lembrou Zarzo.

A investigadora lembrou que “a metodologia e os resultados deste estudo podem ser aplicados para analisar o caso de outras espécies e tentar travar as ameaças que sofrem estas áreas de ligação, tão importantes para manter a diversidade genética das populações”.

Existem hoje 10 meta-populações de ursos-pardos na Europa. “A identificação de áreas e habitats adequados na Sérvia, um local estrategicamente importante para a conservação do urso-pardo, para onde as metapopulações se possam expandir e potencialmente ligar-se entre si constitui uma oportunidade única para a conservação do urso-pardo na Europa”, concluem os autores deste estudo.


Saiba mais sobre o urso-pardo.

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie Em Perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.

Leia a crónica “Pode o urso-pardo voltar a Portugal”, de Daniel Veríssimo, publicada na Wilder em Junho de 2022.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.