Oceano Atlântico. Foto: Tiago Fioreze/Wiki Commons

Dia Europeu do Mar: Zero denuncia obras insustentáveis para natureza do país

Este ano, o Dia Europeu do Mar é celebrado em Lisboa, num evento a 16 e 17 de Maio. A associação Zero aproveita para denunciar duas obras portuárias insustentáveis no país.

O Centro de Congressos em Lisboa é o palco para a conferência EMD 2019, promovida pela Comissão Europeia em redor do empreendedorismo, inovação e investimento azuis.

Hoje, a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável identificou uma série de prioridades que considera “essenciais na discussão sobre a economia azul”.

Uma das prioridades é o não promover obras portuárias insustentáveis. A ZERO refere-se às dragagens previstas para o Estuário do Sado e ao prolongamento do quebra-mar de Leixões. Na sua opinião, estes são “exemplos de como a estratégia portuária em Portugal não respeita os valores da sustentabilidade”, diz em comunicado.

“No caso do Sado, não se assegura a salvaguarda da hidrodinâmica de sistemas sensíveis nem a proteção de espécies como os golfinhos do Sado ou a proteção das pradarias marinhas”, explica a associação.

Além disso, acrescenta, esta obra põe em causa “os elevados valores de rentabilidade económica de outras atividades como a pesca, o turismo e o lazer”.

“A economia azul em Portugal tem-se relevado negativamente num conjunto de aspetos, desde o estímulo à exploração de hidrocarbonetos ao largo de Aljezur, ao fomento da exploração mineral do fundo do mar cujo impacte na conservação dos oceanos é considerável.”

Outra das prioridades da ZERO para o Dia Marítimo Europeu é o evitar dos riscos de mineração profunda do mar por poder causar “impactos ambientais irreversíveis e significativos”.

“Os potenciais locais de mineração em águas profundas estão situados entre 1000 e 6000m abaixo da superfície do oceano, frequentemente em ecossistemas altamente vulneráveis e hotspots de biodiversidade”, alerta a associação.

“A mineração em águas profundas pode levar à perda significativa e irreversível da biodiversidade.”

A ZERO lembra que, a nível da União Europeia, “a mineração de águas profundas é um sector prioritário da estratégia de crescimento azul e faz também parte das Parcerias Europeias de Inovação sobre Matérias-Primas”.

“Intrinsecamente ligada à exploração de recursos não renováveis, a mineração de águas profundas também entra em conflito com o Objetivo 12 de Desenvolvimento Sustentável da ONU sobre consumo e produção sustentáveis e as ambições da economia circular da UE.”

Por isso, a associação defende alternativas sustentáveis à mineração em águas profundas, como a “redução na procura por recursos minerais através de uma economia circular, transição para sistemas inteligentes de energia e mobilidade e mudanças estruturais nos padrões de consumo e estilos de vida”.

Além destas duas prioridades, a ZERO identificou outras três, concretamente o estabelecimento de uma Área de Emissões Controladas no Mediterrâneo – expansível também ao Atlântico Norte (incluindo a costa Portuguesa) -, a descarbonização do transporte marítimo e o facto de as cidades portuárias não poderem ter navios-cruzeiro como fontes significativas de poluição.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.