Foto: USFWS/Becky Skiba

Em Espanha, procuram-se voluntários para proteger os ninhos de tartaruga nas praias

A época de nidificação no Mediterrâneo espanhol arrancou na semana passada com uma tartaruga-comum (Caretta caretta) que fez ninho em Calafell, na Catalunha, onde depositou 147 ovos.

Esta quinta-feira, a organização ambientalista Ecologistas en Acción lançou uma campanha de voluntariado, baptizada como “Rastos na Areia”, para pedir ajuda na conservação das tartarugas marinhas que nidificam nas praias espanholas do Mediterrâneo.

O objecto é chamar a atenção da população para a necessidade de proteger os ninhos e os ovos ali depositados. Durante a noite, nos meses de Verão, as tartarugas saem do mar e depositam os ovos em ninhos escavados na areia das praias, explica a organização em comunicado. Regressam depois ao mar e deixam os ovos à sua sorte, que levarão cerca de dois meses até eclodir.

Tartaruga-comum após a eclosão. Foto: Hillebrand Steve/ U.S. Fish and Wildlife Service

Mas quando a maré sobe e as pegadas das tartarugas são apagadas pelas águas do mar, deixa de ser possível saber onde estão os ninhos para que possam ser protegidos. E por essa razão, a campanha pede aos voluntários que percorram a beira-mar e registem os rastos destes animais na areia, avisando os técnicos para que possam tomar medidas de protecção dos ninhos.

Esta nova iniciativa junta-se a outras acções viradas para as tartarugas-marinhas já em curso, nas zonas da Catalunha, Valência e Murcia, na espanhola costa do Mar Mediterrâneo.

Número está a crescer

De ano para ano, desde 2001, têm vindo a crescer o número de ninhos de tartaruga e de tentativas de nidificação registadas pelos ambientalistas. A época de nidificação deste ano já começou na semana passada, quando uma tartaruga-comum (Caretta caretta) depositou 147 ovos num ninho na costa de Calefell, na Catalunha.

Em 2020, observaram-se um total de 27 posturas e tentativas de posturas nas costas mediterrânicas de Espanha. “Alguns especialistas afirmam que estamos perante um processo de colonização de novos territórios de postura”, indica a Ecologistas en Acción.

No entanto, muitas vezes os ninhos são construídos em locais junto à costa pouco propícios, onde passam muitas pessoas ou que são limpos todos os dias por maquinaria pesada. Acredita-se que isso acontece porque se trata de “tartarugas que são mães pela primeira vez” ou que estão a nidificar em praias que não conheciam.

A tartaruga-comum, também conhecida por tartaruga-boba, está classificada como Vulnerável à extinção a nível mundial. Estima-se que apenas uma em cada mil chegam a adultas.

Tartaruga-comum. Foto: Funfood/Wiki Commons

Depois da eclosão dos ovos, dois meses após a postura, as pequenas tartarugas deverão nascer durante a noite. Depois de chegarem ao mar, têm de enfrentar várias ameaças e riscos até chegarem à idade adulta, 20 ou 30 anos depois, quando começam por sua vez a reproduzir-se.

E em Portugal?

Na costa portuguesa, não há conhecimento de ninhos de tartaruga. No entanto, sabe-se que muitos juvenis aqui passam quando realizam a travessia do Mar Mediterrâneo para o Atlântico, normalmente muito próximos da costa, onde as temperaturas são mais amenas e as correntes menos fortes. Os mais comuns são precisamente os juvenis de tartaruga-comum.

No entanto, o facto de nadarem mais próximas da costa torna estas tartarugas mais vulneráveis a ameaças de origem humana, como acidentes com artes de pesca ou o abalroamento por embarcações, alertou recentemente a RAAlg – Rede de Arrojamentos do Algarve.

É na Primavera que em Portugal, na costa algarvia, acontece a “época da tartaruga” – assim conhecida devido aos muitos arrojamentos destes animais, em especial de juvenis de tartarugas-comuns. 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.