Empresas turísticas ajudam cientistas a saber onde estão os cetáceos dos Açores

Durante sete anos, empresas turísticas de observação de golfinhos e baleias recolheram dados para ajudar os cientistas a estudar a distribuição geográfica destes animais nos Açores. O resultado acaba de ser publicado numa revista científica.

 

Há vários anos que a comunidade científica procura saber onde estão os golfinhos, baleias e outros cetáceos dos Açores, para tornar a sua conservação mais eficaz. Os investigadores precisam conhecer qual a distribuição geográfica, e como esta varia com o tempo, destas espécies, que têm um papel fundamental nos ecossistemas marinhos.

“No entanto ainda sabemos pouco sobre a distribuição destes animais: não só são muito móveis, respondendo com rapidez a alterações ambientais no oceano, como as campanhas dedicadas ao seu estudo são dispendiosas e limitadas no tempo”, segundo um comunicado divulgado hoje pelo Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

 

Golfinho-roaz (Tursiops truncatus). Foto: Marc Fernandez Morron

 

A estratégia mais usual é usar modelos computacionais. Estes “extrapolam o nicho ecológico de uma espécie a partir dos dados de localização existentes e das variáveis do ambiente”. Mas serão estes modelos precisos, tendo em conta que estas são espécies tão móveis e que vivem num ambiente tão dinâmico como o oceano?

“A questão em si depende muito da espécie a estudar”, disse Marc Fernandez Morron, primeiro autor do artigo e investigador do cE3c e da Universidade dos Açores.

“Para espécies altamente dinâmicas, como a baleia de barbas, é muito melhor usar dados semanais. Mas para isso precisamos de uma recolha de dados constante, um grande esforço de amostragem, que neste caso foi obtido graças à colaboração das empresas turísticas de observação de cetáceos”, acrescentou.

Para este estudo, publicado ontem na revista Marine Ecology Progress Series, os investigadores usaram dados das 10 espécies de cetáceos mais avistadas no arquipélago dos Açores entre Janeiro de 2009 e Dezembro de 2015. Ao todo foram utilizados mais de 16.000 avistamentos de cetáceos.

Nas suas viagens turísticas, que ocorrem todo o ano, com um pico de afluência durante o Verão, os operadores de observação de cetáceos anotam as espécies que observam, contam animais e registam a sua posição. Estes dados são submetidos na plataforma MONICET – uma base de dados online inaugurada em 2008 e que conta com o apoio do Governo dos Açores – acompanhados de fotografias para identificação das espécies. Todos os dados são validados por especialistas antes de serem disponibilizados online.

Hoje, o MONICET está “numa fase adulta, com 10 anos de funcionamento e oito empresas a colaborar”, salientou Marc Fernandez Morron. “Estamos a trabalhar para que tenha uma maior autonomia, com candidaturas a novos projetos para melhorar e expandir a plataforma para outras áreas.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.