Encontradas altas concentrações de mercúrio nas penas dos pinguins da Antárctida

Uma equipa de investigadores descobriu elevadas quantidades de mercúrio, tóxico para a saúde, nas penas de três espécies de pinguins na Antárctida, revela um novo estudo.

As regiões polares como a Antártida actuam como sumidouros de mercúrio libertado pelo meio natural e pelas actividades humanas. O mercúrio é um metal tóxico para a saúde dos ecossistemas e dos seres vivos, causando alterações neurológicas, imunológicas e fisiológicas, entre outras.

Recentemente, uma equipa de investigadores, na qual participaram o Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC), publicou um estudo onde mostraram que três espécies de pinguins têm elevadas concentrações de mercúrio nas penas. Este é um indicador directo de que este elemento está cada vez mais presente naquele continente branco.

Colónia de pinguim-gentoo. Foto: Andrés Barbosa

As regiões remotas, como a Antártida, podem gerar emissões de mercúrio pela actividade vulcânica. Mas também recebem, através da atmosfera, as emissões libertadas em outras partes do planeta, quer de forma natural, quer mediante actividades como a indústria ou a queima de combustíveis fósseis. Segundo um comunicado do MNCN-CSIC enviado hoje à Wilder, isto “põe em risco os seus ecossistemas aquáticos e terrestres e a biodiversidade que albergam”.

“Ao estarem na parte alta da cadeia trófica, aves como os pinguins são o modelo de estudo perfeito para medir a concentração de mercúrio presente na Antárctida”, explicou Andrés Barbosa, investigador do MNCN.

Neste trabalho, publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health, os investigadores analisaram a quantidade de mercúrio acumulada nas penas de três espécies: o pinguim-gentoo (Pygoscelis papua); o pinguim-de-barbicha (Pygoscelis antarcticus) e o pinguim-de-Adélia (Pygoscelis adeliae), numa área geográfica ampla ao largo da Península Antárctida.

As amostras foram recolhidas entre 2005 e 2007.

As concentrações mais elevadas foram encontradas no pinguim-de-barbicha na ilha Rei Jorge.

“Estes níveis coincidem com as estimativas obtidas previamente”, acrescentou Barbosa.

Há apenas um mês celebrou-se o 30º aniversário da assinatura do Protocolo de Madrid, acordo complementar ao Tratado Antárctico cujo objectivo é a protecção da Antárctida de uma série de ameaças, entre elas a exploração mineira.

Hoje, apesar de mais de 50 países terem assinado o protocolo, a saúde de um dos locais mais pristinos do planeta – crucial em aspectos como a regulação das correntes oceânicas – continua a estar ameaçada.

“A conservação deste lugar único no mundo está a ser comprometida por fenómenos como as alterações climáticas ou o turismo crescente”, alertou Barbosa. “Por isso, dados os efeitos prejudiciais do mercúrio nos ecossistemas, é essencial continuar a analisar a sua presença na continente”, defendeu.

Já em Julho deste ano, um outro estudo, desta vez feito por investigadores portugueses, descobriu microplásticos nas mesmas três espécies de pinguins da Antárctida. Os cientistas concluíram que aqueles pinguins estão a ingerir microplásticos há mais de 15 anos.

Para Joana Fragão, autora principal do estudo e investigadora do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), “o mais impressionante dos resultados foi verificar que os microplásticos estavam presentes na dieta das três espécies de pinguins, em vários locais e nos vários anos do estudo (2006, 2007, 2008, 2012, 2013, 2014 e 2016), o que demonstra que estas partículas se encontram já bem difundidas no ecossistema marinho Antártico”.

Os resultados obtidos, sublinhou na altura José Xavier, autor sénior do artigo científico, “vão certamente ser muito úteis para abrir novas áreas de investigação nesta temática e avançar com políticas para reduzir o impacto da poluição por plásticos no Oceano Antártico no contexto do Tratado da Antártida”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.