Enguia-fantasma. observada ao largo de Porto Covo. Foto: MARE

Enguia exótica com mais de um metro filmada no mar de Porto Covo

Conhecida como enguia-fantasma ou moreia-de-brummer, esta espécie do indo-pacífico foi filmada por Joaquim Parrinha, investigador do MARE na Universidade de Coimbra, durante um mergulho nocturno.

Também chamada de enguia-de-fita-branca, e com o nome científico Pseudechidna brummeri, esta espécie de enguia nunca tinha sido avistada no Atlântico até agora, informa uma nota de imprensa divulgada pelo MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.

Este predador nocturno, conhecido pela forma como caça pequenos peixes e crustáceos, é bastante comum em locais como o Pacífico Ocidental, o Oceano Índico e o Oceano Índico Ocidental, “todos muito distantes do local onde agora foi encontrada”, informa também o MARE. “Quando foi avistada, encontrava-se a uma profundidade de um a dois metros, junto ao porto de pesca de Porto Covo.”

Foi Joaquim Parrinha, investigador do MARE na Universidade de Coimbra, que se deparou com esta enguia com mais de um metro de comprimento quando filmava a biodiversidade marinha ao largo de Porto Covo. Enviou as filmagens à sua coordenadora, Sónia Seixas, que não teve dúvidas do que se tratava. “Esta espécie tem a particularidade de se enrolar de um modo muito específico parecendo uma ‘tira de papel’. O exemplar observado estava bem ativo e aparentava uma boa condição física”.

A descoberta foi descrita e confirmada num artigo publicado agora pela revista científica Marine Pollution Bulletin, depois de ser revista por cientistas independentes. O facto de terem avistado esta enguia tão longe do seu local de origem intrigou os dois investigadores, que atribuem este aparecimento a duas causas possíveis.

A hipótese mais plausível, para ambos, é que a enguia tenha sido acidentalmente transportada na água de balastro de uma embarcação que se dirigia ao porto de Sines, próximo de Porto Covo. A água de balastro é água do mar utilizada pelos navios para os estabilizar, inserida dentro das embarcações numa zona, durante o seu percurso, e mais tarde libertada noutras áreas e oceanos.

Outra possibilidade é que o animal observado tenha sido proveniente de um aquário e libertado no mar, uma vez que a enguia-fantasma “se vende na Europa como espécie ornamental para aquários de água salgada”, explica Sónia Seixas.

Por saber está se esta enguia é um único indivíduo, isolado, ou se já há mais do que um peixe desta espécie ao largo da costa alentejana. Caso se confirme a existência de mais do que uma enguia desta espécie, “os investigadores do MARE ponderam a necessidade de lançar uma campanha de monitorização”, adianta este centro de investigação.

A equipa está também “a estudar medidas para prevenir o aparecimento de outros exemplares”, pois esta enguia, “caso tenha potencial para se tornar uma espécie invasora, e dado o seu perfil predador, terá certamente impacto no ecossistema da região.” 

“Sendo proveniente do indo-pacífico, esta espécie traz-nos grandes apreensões pois sabemos como algumas espécies que foram introduzidas são nefastas para o ambiente”, afirma também a investigadora do MARE, citada na nota de imprensa. “No entanto, e sendo a espécie activa de noite, não nos parece que seja um problema para os banhistas nas praias.”


Saiba mais.

O vídeo com a enguia pode ser visto aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.