Beluga. Foto: Stan Shebs/Wiki Commons

Islândia recebe o primeiro santuário para baleias-brancas do mundo

Ajudar a reabilitar baleias-brancas e outras espécies de baleias e golfinhos de cativeiro é o grande propósito do santuário que a organização Sea Life Trust vai criar na Islândia, foi anunciado esta semana.

 

Os primeiros animais chegam na Primavera de 2019 a este santuário com mais de 32.000 metros quadrados e até 10 metros de profundidade na baía de Klettsvik, na ilha de Heimaey, a Sul da Islândia. São duas baleias-brancas (Delphinapterus leucas) fêmeas, Little Grey e Little White e passaram os últimos sete anos no Changfeng Ocean World Aquarium em Shanghai, na China.

Ambas têm 12 anos, cerca de 900 quilos e quatro metros de comprimento.

A localização do santuário foi escolhida porque as águas costeiras frias providenciam um habitat natural sub-Árctico para esta espécie e albergam uma grande variedade de vida selvagem local, explica o Sea Life Trust em comunicado. Os peritos escolheram a Islândia depois de terem estudado outros possíveis locais na Rússia, Estados Unidos, Noruega e Escócia.

“A baía de Klettsvik, em particular, está relativamente afastada de tudo e oferece protecção em relação ao clima islandês”, acrescenta o Trust. Além disso, permite que os técnicos desenvolvam em terra infraestruturas para monitorizar e avaliar as baleias de forma regular. Nas proximidades vai ser criado um centro para visitantes e sensibilização para que as pessoas possam aprender mais sobre o projecto e a vida selvagem da região.

 

Santuário na Islândia. Foto: Sea Life Trust

 

O santuário, que quer melhorar as condições de vida destes animais, resulta de uma parceria entre o Sea Life Trust e a Whale and Dolphin Conservation (WDC).

Segundo o Sea Life Trust, “esta é a primeira vez na História que é criado um santuário para reabilitar cetáceos de cativeiro, como baleias e golfinhos”. Ao demonstrar que baleias-brancas de cativeiro podem ser transferidas dos aquários para um meio mais selvagem, onde se podem comportar de forma mais natural, a equipa do projecto espera “inspirar outros aquários a procurar destinos alternativos para estas fantásticas criaturas”.

Para já, o santuário recebe Little Grey e Little White. Estes animais serão transportados por ar, terra e mar, num desafio logístico que envolve peritos em mamíferos marinhos. Será uma viagem de 30 horas. O bem-estar mental e físico destas baleias é a maior prioridade durante o transporte.

À chegada, os animais serão levados para uma piscina de quarentena. “Estarão cansadas e confusas e é por isso que uma equipa de veterinários e especialistas em baleia-branca vão continuar a monitorizar o seu bem-estar físico e mental”, explica o Trust.

Antes de serem libertadas nas águas do santuário, passarão um processo para se adaptarem à temperatura da água, mais baixa do que aquela a que estavam acostumadas. Isto inclui, por exemplo, um reforço da dieta, para que desenvolvam mais gordura.

Além disso, a equipa do santuário vai ajudá-las a ganhar confiança para que interajam com a fauna e vida selvagem da baía, nomeadamente apresentando-lhes, cuidadosamente, criaturas como caranguejos, crustáceos e espécies vegetais, como algas marinhas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.