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Oceanário de Lisboa faz 20 anos e anuncia intenção de crescer

O Oceanário de Lisboa, inaugurado há precisamente 20 anos no âmbito da Expo 98, cujo tema foi “Os oceanos, um património para o futuro”, anunciou hoje a intenção de se expandir fisicamente. A Fundação Oceano Azul revelou as novas apostas na conservação da vida marinha.

 

A casa onde vivem cerca de 8.000 animais e plantas de 500 espécies diferentes, em mais de 30 aquários, faz hoje 20 anos.

Situada junto às margens do rio Tejo, esta estrutura representada por quatro habitats marinhos e um aquário central alberga pinguins, papagaios-do-mar, lontras-marinhas (os únicos mamíferos do aquário), anémonas, um polvo-gigante, 11 espécies de estrelas-do-mar, cinco espécies de ouriços-do-mar, nove espécies de tubarões e ainda bacalhaus, meros, garoupas, mantas e raias, cavalos-marinhos, peixe-lua e peixe-balão.

Desde que abriu portas, em 1998, este aquário recebeu um total de mais de 22 milhões de pessoas. No ano passado, foram mais de 1,3 milhões os visitantes, vindos de 185 países.

Mas neste momento, “há uma necessidade de expansão do edifício, tendo em vista a qualidade da visita ao Oceanário”, disse José Soares dos Santos, presidente do conselho de administração da Fundação Oceano Azul, à frente dos destinos do Oceanário de Lisboa até 2045.

Actualmente, o Oceanário tem três edifícios, numa área total de 20 mil metros quadrados: o edifício dos Oceanos (onde está a exposição permanente), o edifício de Apoio (onde estão os escritórios, a loja e as salas do programa educativo) e o edifício do Mar (onde estão as exposições temporárias).

Mas para continuar a sua missão de promover o conhecimento do oceano e sensibilizar para a sua conservação foi preciso tomar uma decisão. “Ou expandimos fisicamente o Oceanário para albergar mais visitantes ou subimos os preços. A decisão foi expandir.” No seu entender, o crescimento do pólo totalmente dedicado aos oceanos é “inevitável para que a missão (do Oceanário) se cumpra”.

 

Lontras marinhas. Foto: Pedro A. Pina

 

Neste momento há apenas a intenção de expandir o Oceanário e José Soares dos Santos gostaria de começar as obras em 2020 ou 2021. Mas este é um “caminho longo”. É preciso que a obra seja negociada e autorizada pelo Governo, uma vez que a Fundação tem uma concessão atribuída pelo Estado há três anos. Entretanto, a Fundação e o Oceanário vão começar a trabalhar no conceito. “Não queremos repetir o tanque principal. Vamos procurar outras experiências que ajudem a nossa missão.”

Enquanto os visitantes ainda terão de esperar por estas alterações, o Oceanário tem vindo a mudar gradualmente nos últimos dois anos. “Um total de sete milhões de euros foram investidos nos últimos dois anos no ar condicionado, nos tectos e no chão. Está tudo novo”, disse João Falcato, presidente executivo do Oceanário de Lisboa.

Para já, hoje é inaugurada a nova loja e restaurante do aquário. “Estas eram duas coisas com as quais não estávamos totalmente satisfeitos. Faltava uniformidade na experiência de quem entrava no Oceanário”, explicou João Falcato. Agora, a loja e o restaurante passam a estar integrados num único espaço, chamado Sea The Future.

Outra mudança é no consumo sustentável. Agora, 30% dos produtos vendidos na loja são considerados sustentáveis – tendo em conta os materiais usados e todo o ciclo de vida do produto – mas a meta é chegar aos 95% dentro de três anos. Quanto ao restaurante, nas mãos do chef Kiko, o desafio é optar “pelo que tem menor impacto no Ambiente”.

 

Diabo-do-mar-do-atlântico. Foto: Pedro A. Pina

 

Para o futuro, a aposta é transformar cada vez mais o Oceanário numa instituição de conservação. “Os parques zoológicos começaram por ser uma atracção turística. Depois, em 2014/2015, o aquário apostou num forte programa de educativo e de conservação. Mas no futuro queremos ter outra forma de estar”, mais próxima da conservação, explicou João Falcato. Segundo este responsável, nos últimos dois anos foram investidos 500.000 euros em projectos de conservação e investigação dos oceanos, “mais do que nos 18 anos anteriores. Mudámos radicalmente o posicionamento”.

 

E fora do Oceanário também há novidades

A missão da Fundação Oceano Azul, através do Oceanário, é maravilhar as pessoas para a vida marinha e alertar para o aumento da degradação dos oceanos.

“Portugal tem um défice na agenda do Ambiente e do mar”, salientou Tiago Pitta e Cunha, presidente executivo da Fundação Oceano Azul. “Queremos tornar Portugal um país mais relevante no século XXI, o século do desenvolvimento sustentável.”

Para isso, a Fundação tem quatro projectos a arrancar em breve. Tiago Pitta e Cunha revelou que vai começar em Setembro de 2018 um projecto piloto para levar os oceanos a todas as escolas do ensino primário do município de Mafra. “Continuamos a delapidar os oceanos e é preciso investir muito na educação”, explicou. Actualmente estão a ser ultimados os materiais e conteúdos e também já estão identificados outros municípios para aderir ao projecto. “O objectivo final será chegar à escala nacional.”

O outro projecto é promover a criação de áreas marinhas protegidas, começando com o programa Blue Azores. Este vai investigar o mar do arquipélago, fazendo um levantamento dos fundos marinhos e descobrindo as rotas migratórias da megafauna dos Açores, desde as baleias aos tubarões e mantas. A 3 de Junho faz-se ao mar uma expedição que junta entidades como a Fundação Oceano Azul, a National Geographic e o Instituto Hidrográfico.

 

Foto: Pedro A. Pina

 

Está também previsto um programa para preservar as pequenas pescarias artesanais, criando modelos de cogestão dos recursos pesqueiros. E a campanha “Salvar os Cavalos Marinhos da Ria Formosa”. “A ria Formosa era a área laguna com maior concentração de cavalos-marinhos do mundo. Mas instalou-se a pesca ilegal da espécie e a espécie colapso”, referiu Tiago Pitta e Cunha. Aliás, a pesca ilegal está a dizimar, além dos cavalos marinhos, outras espécies em Portugal, como os corais vermelhos, o pepino do mar e a enguia.

Esta campanha vai apostar na sensibilização das autoridades e dos pescadores, na educação ambiental nas escolas – sublinhando a importância da espécie -, na imprensa nacional e no apoio aos investigadores para saber o que ainda existe e o que se pode fazer.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez

A Wilder fez uma visita guiada pelo Oceanário de Lisboa e deixa-lhe aqui o retrato das espécies que não pode mesmo perder.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.