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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

Oceanos: peixes, baleias e caranguejos estão a deixar de se conseguir ouvir com o ruído que fazemos

Equipa internacional de cientistas alerta que a paisagem sonora marinha, crucial para a saúde das espécies selvagens, está a ser abafada pelo ruído da actividade humana.

Os danos causados pelo ruído são tão prejudiciais quanto a sobre-pesca, a poluição e a crise climática, alerta uma equipa internacional de 25 cientistas – da Arábia Saudita, Reino Unido, Países Baixos, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Noruega, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia – num artigo publicado a 5 de Fevereiro na revista Science.

Os animais que vivem nos oceanos conseguem ouvir através de longas distâncias, o que torna o som um elemento crucial.

A vida marinha – como os peixes, caranguejos, amêijoas e os corais – usa o som para apanhar presas, para se orientar no oceano, para defender o seu território, para atrair parceiros, para encontrar casa ou para lançar o alerta em caso de perigo.

“A paisagem sonora do oceano é uma das mais importantes fontes de informação para os animais marinhos”, explicou Andy Radford, investigador da Universidade de Bristol e que fez parte da equipa. 

Mas a paisagem acústica do mundo natural subaquático está a mudar drasticamente.

Esta equipa de investigadores documentou de que forma as paisagens sonoras do oceano estão a mudar e explorou todos os impactos do ruído nos animais e nos ecossistemas. E identificou maneiras de restaurar paisagens sonoras mais naturais.

Os cientistas sublinham ainda que a poluição sonora tem impactos negativos no comportamento, fisiologia e reprodução da vida selvagem, desde os invertebrados às baleias. Em casos extremos, como as explosões, pode mesmo causar uma morte directa.

“Desde a Revolução Industrial, os humanos tornaram o planeta, e os oceanos em particular, mais ruidosos através, por exemplo, da pesca, da navegação e do desenvolvimento de infra-estruturas”, disse, em comunicado, Carlos Duarte, coordenador do estudo e investigador na Universidade King Abdullah da Ciência e Tecnologia (KAUST). Ao mesmo tempo, os humanos “silenciaram os sons dos animais marinhos que dominavam o oceano pristino”.

Contudo, salientam os investigadores, as políticas actuais para melhorar a saúde dos oceanos ignoram a necessidade de mitigar o ruído como um pré-requisito para um oceano saudável.

A boa notícia é que é fácil baixar o volume da nossa cacofonia nos oceanos. “O nosso estudo identifica formas relativamente fáceis de o conseguir, desde modificar os motores dos navios a usar cortinas de bolhas quando se constroem parques eólicos offshore”, acrescentou Nathan Merchant, do Centro para o Ambiente, Pescas e Aquacultura. “Os decisores políticos podem implementar estas medidas ao definir metas obrigatórias e ao providenciar incentivos económicos.”

O estudo aponta a rápida resposta dos animais marinhos ao confinamento dos humanos como consequência da Covid-19 como uma prova de uma potencial recuperação rápida da poluição sonora.


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Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.