Foto: Pexels/Pixabay

Peixes da costa portuguesa têm menos metais que os do Mediterrâneo

A sardinha, cavala e carapau capturados nas águas portuguesas apresentam uma quantidade de metais inferior à observada em outras áreas do Atlântico Norte, Mediterrâneo e Adriático, de acordo com um artigo científico disponibilizado este mês, na revista Environmental Pollution.

Neste estudo, investigadores da Universidade de Coimbra, do Instituto Politécnico de Peniche e do Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) determinaram o nível de contaminação a que estas três espécies estão sujeitas, analisando de forma integrada a concentração de microplásticos e de 16 metais que apresentavam nos seus tecidos.

“As concentrações de metais detectadas foram muito baixas e inferiores às de espécies similares em outros ambientes, como o Mediterrâneo. No entanto, ao nível de contaminação por microplásticos, os resultados obtidos são mais preocupantes, uma vez que foram encontrados nos estômagos de 29% dos peixes amostrados”, refere Filipe Ceia, co-autor e investigador da Universidade de Coimbra.

Carapaus. Foto: Joana Barosa

Para o estudo escolheram-se quatro zonas da costa norte portuguesa sujeitas a diferentes pressões antropogénicas e potenciais fontes de contaminação: a área marinha protegida do Parque Natural do Litoral Norte; o estuário do Douro, onde desaguam os efluentes de oito ETAR; um naufrágio ao largo de Matosinhos, muito utilizado para as actividades da pesca e a marina de recreio do Porto de Leixões.

As amostras foram colhidas entre os 11 e 47 metros de profundidade, em eventos de pesca de investigação do IPMA, em Dezembro de 2017 e foram congeladas de imediato para posterior análise.

Porto de Matosinhos. Foto: Filipe Ceia

Filipe Ceia elucida que “é bastante seguro comer sardinha, carapau e cavala da nossa costa [dadas as baixas concentrações de metais] e, portanto, não apresentam risco para os humanos. O facto de não termos encontrado evidências de que estas concentrações induziram stress nos peixes, deixa-nos ainda mais confiantes de que estes peixes estão de boa saúde ambiental. Já o mesmo não se pode dizer do consumo de grandes peixes pelágicos, como o espadarte e particularmente a tintureira que ainda é muito pescada e consumida em Portugal, às vezes sem se saber.“

Em relação aos microplásticos, o investigador refere que “apesar de a quantidade não ter sido muito elevada, as amostras tiveram grande diversidade. Encontrámos fibras (normalmente vêm da lavagem de roupas sintéticas, que as ETAR não conseguem reter, ou de redes de pesca), fragmentos de plásticos e de películas (por exemplo, pedaços de sacos desfeitos)”.

Oceano Atlântico. Foto: Tiago Fioreze/Wiki Commons

Estimando-se que 10% dos plásticos acabem no mar, este tipo de contaminação no meio marinho tem merecido uma maior atenção por parte dos cientistas. Os microplásticos assim como os metais têm pouca biodegredabilidade e elevada persistência no meio aquático e por isso tendem a bioacumularem-se ao longo da cadeia trófica.

“Quando se pensa em medidas práticas na sociedade, estes estudos vêm dar o alerta cada vez mais forte em termos de contaminação por microplásticos, uma vez que já foram encontrados nas sardinhas e carapaus que consumimos,” conclui Filipe Ceia.