Populações destes exóticos periquitos estão a aumentar rapidamente em Sevilha

Periquito-de-colar (Psittacula krameri). Foto: Dick Daniels/Wiki Commons

Investigadores fizeram os seus censos e os cidadãos ajudaram com as suas contagens. Como resultado desta parceria, hoje sabe-se que as populações de periquitos-de-colar e de periquitos-monge estão a aumentar rapidamente na cidade de Sevilha, Espanha.

De 2013 a 2021, as populações de periquitos-de-colar (Psittacula krameri) e de periquitos-monge (Myiopsitta monachus) aumentaram cinco vezes e 20 vezes, respectivamente.

Durante esses nove anos, uma equipa de investigadores da Estação Biológica de Doñana (CSIC) e da Universidade Pablo de Olavide (Sevilha) fez censos populacionais sistemáticos na cidade de Sevilha e arredores – numa área de 735 quilómetros quadrados, ao longo dos rios Guadalquivir, Guadiana e Guadaíra – e recorreu a plataformas de Ciência Cidadã (como o eBird e o Observation) para obter dados sobre o aumento populacional e a distribuição destas duas espécies exóticas.

Periquito-de-colar (Psittacula krameri). Foto: Dick Daniels/Wiki Commons

“Os nossos censos mostraram um rápido aumento populacional de ambas as espécies. Os periquitos-de-colar aumentaram de 1.200 para 6.300 indivíduos e os periquitos-monge aumentaram de 70 para 1.487 indivíduos”, escrevem os autores no artigo, publicado no início deste mês na revista científica “Animals”. 

Os investigadores olharam ainda para os impactos destas aves na fauna nativa, em especial a competição por locais de nidificação. Por exemplo, concluíram que uma espécie ameaçada de morcego, o morcego-arborícola-gigante (Nyctalus lasiopterus), e uma espécie ameaçada de falcão, o peneireiro-das-torres (Falco naumanni), registaram declínios populacionais como consequência. Além disso, estas aves ajudam a dispersar sementes “de um grande número de plantas exóticas invasoras”. 

Segundo os investigadores é essencial ter programas de monitorização a longo prazo para avaliar alterações populacionais e para desenvolver acções de gestão eficazes para espécies invasoras.  E quando os recursos científicos são limitados, a Ciência Cidadã pode dar um grande contributo para melhorar a monitorização destas espécies. Neste caso, foram utilizadas 6.528 observações de ambas as plataformas de Ciência Cidadã, sumando um total de 45.105 indivíduos das suas espécies (33.149 de periquitos-de-colar e 11.956 de periquitos-monge).

Periquito-monge. Foto: Bernard Dupont/WikiCommons

Os periquitos-de-colar, nativos do Sul da Ásia e da África subsaariana, e de periquitos-monge, nativos da América do Sul, são duas das espécies invasoras de papagaios com maior sucesso em todo o mundo.

“De uma forma geral, as suas populações europeias parecem estar a aumentar desde os primeiros registos de reprodução nos anos 1960 e 1970”, escrevem os autores do artigo.

Em Espanha, os primeiros registos de ambas as espécies são de meados dos anos 1970 e os primeiros registos em Sevilha são do início dos anos 1990, depois de uma libertação deliberada de um pequeno grupo de aves no Parque Maria Luísa em 1992. 

Segundo os investigadores, os periquitos-de-colar estão a crescer exponencialmente em Sevilha, ultrapassando os 6.000 indivíduos localizados em dois núcleos reprodutores principais. Já os periquitos-monge cresceram exponencialmente mas parecem ter alcançado uma estabilidade de cerca de 1.500 aves, distribuídas por vários núcleos reprodutores.


Agora é a sua vez.

Saiba quais são as cinco espécies de periquitos que pode ver em Portugal.

E conheça aqui o projecto IBISurvey que está a estudar as aves exóticas em Portugal. E saiba como pode participar com os seus dados.


Os artigos desta secção são apoiados pela SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.