Periquito-de-colar (Psittacula krameri). Foto: Dick Daniels/Wiki Commons

Estes são cinco periquitos que pode observar em Portugal

Com as suas cores garridas e bicos curvos e fortes, os periquitos e papagaios fazem lembrar os trópicos. Mas nos últimos anos, algumas das nossas cidades têm-se enchido destas aves.

Populares como animais de estimação, os periquitos que hoje se encontram à solta no Porto, em Lisboa e nos arredores são provavelmente animais que fugiram do cativeiro, ou seus descendentes. Graças ao clima ameno e ao alimento disponível, têm-se adaptado à “selva urbana”, de tal modo que alguns poderão vir a tornar-se numa ameaça para as aves nativas do nosso país.

Saiba como identificar estas aves exóticas:

1. Periquito-de-colar (Psittacula krameri

Foto: Dick Daniels/Wiki Commons

Originário da África subsahariana e do sul da Ásia, o periquito-de-colar (também conhecido por periquito-rabijunco) ocorre em Portugal desde o final dos anos 70. Em 2008, a população nacional desta espécie foi estimada em 270 indivíduos. Desde então a população tem aumentado, havendo uma estimativa mais recente de cerca de 650 periquitos-de-colar apenas em Lisboa. Na capital, a Quinta das Conchas e o Jardim da Estrela são bons locais para observar a espécie, embora possa ser vista durante todo o ano nos parques e jardins da Área Metropolitana. Existem também populações estabelecidas de periquito-de-colar no Porto, em Coimbra, nas Caldas da Rainha e nos Açores.

É uma espécie gregária e muito social, reunindo-se em dormitórios comunais que podem chegar a juntar centenas de aves. Este periquito verde com um colar preto distingue-se de outras espécies pela parte superior do seu bico, que é vermelha. Outra característica que permite distingui-la do periquitão e da caturrita é a cauda mais comprida, que se nota sobretudo nas penas centrais azuladas. Em voo, o periquito-de-colar destaca-se também pelas penas de voo, mais escuras do que o resto do corpo.

Esta espécie alimenta-se de frutos, grãos, sementes, bagas e flores. Em Portugal, há registos de periquitos-de-colar a alimentarem-se de citrinos, romãs, figos, nêsperas e azeitonas, assim como de frutos do lodão-bastardo e da catalpa. 

Apesar de não se saber ainda o impacto do periquito-de-colar no nosso país, em Espanha existem evidências de impactos negativos sobre espécies nativas nalguns locais: o periquito-de-colar compete com morcegos e mochos pelas cavidades das árvores, onde nidifica, e compete com aves frugívoras pelo alimento. 

2. Periquitão (Thectocercus acuticaudatus)

Foto: Kevin/Wiki Commons

Lisboa e Barcelona são as únicas cidades europeias onde existem populações estabelecidas desta espécie originária da América do Sul. Vê-se regularmente no Parque Bensaúde, na Quinta das Conchas e no Campo Grande, mas pode encontrar o periquitão (também conhecido como periquitão-de-cabeça-azul ou conure-de-cabeça-azul) noutros parques e jardins da cidade e nos concelhos limítrofes, incluindo Oeiras, Cascais, Amadora e Loures.

Passível de se confundir com o periquito-de-colar, o periquitão distingue-se pela cabeça azulada com um anel branco à volta do olho. Tem também o bico mais claro e a cabeça mais corpulenta do que o periquito-de-colar, e a sua cauda é menos comprida. Em voo, a melhor forma de identificar o periquitão é mesmo pela vocalização, que embora seja igualmente estridente, é mais rouca. 

Apesar de não existirem impactos descritos na Península Ibérica, sendo uma espécie que nidifica em buracos de árvores poderá competir com espécies nativas por locais de nidificação.

3. Caturrita (Myiopsitta monachus)

Foto: Alexsatsu/Wiki Commons

Atualmente a única população estabelecida de caturrita (ou periquito-monge) que se conhece em Portugal é na cidade do Porto. Um dos locais mais propícios para observar esta espécie é o Passeio Alegre, mas também é vista com regularidade no Parque da Cidade e na Quinta do Covelo. Em várias cidades de Espanha, como Madrid, Barcelona e Málaga, as populações de caturrita ascendem aos milhares.

Tal como o periquito-de-colar, também a caturrita tem o corpo verde, mas distingue-se pelo bico amarelado e pelo peito, faces e testa acinzentados. Em voo, se a observar com atenção poderá ver o azul das penas de voo e a cauda mais curta do que a do periquito-de-colar.

As caturritas constroem ninhos comunais. Estes ninhos feitos de ramos albergam vários casais, e chegam a ser tão grandes e pesados que em Espanha há registo de danos causados quando os ninhos danificam as árvores e caem, pondo em risco viaturas e pessoas. 

4. Papagaio-do-senegal (Poicephalus senegalus)

Foto: Juan Emilio/Wiki Commons

O papagaio-do-senegal (também conhecido por periquito-da-guiné ou periquito-massorongo) é uma ave nativa do Oeste de África. Existe uma pequena população estabelecida na cidade de Lisboa: esta espécie é regularmente vista na zona de Belém, no Jardim da Estrela e no Parque Bensaúde. É uma ave relativamente fácil de identificar, com a sua cauda curta e a cabeça grande e cinzenta, que contrasta com as costas e peito verdes e o abdómen e parte de cima da cauda amarelos. 

5. Inseparável-de-fischer (Agapornis fischeri)

Foto: Nevit Dilmen/Wiki Commons

Esta espécie, bastante popular como animal de estimação, é frequentemente observada em liberdade, fruto de fugas de cativeiro. No entanto, estas pequenas aves nativas de África têm dificuldade em adaptar-se, pelo que a maioria acaba por morrer. Ainda assim, em anos recentes um pequeno núcleo conseguiu estabelecer-se em Lagoa, no Algarve.

Poderá também observar Cocatiel (também conhecida por caturra) e periquito-da-austrália, mas estas aves serão casos isolados que terão fugido de cativeiro; não existem populações destas espécies a viver em estado selvagem no nosso país.


Agora é a sua vez.

Parta à descoberta destas aves exóticas. E de 1 a 30 de Novembro, se observar um bando de periquitos-de-colar ao final do dia, participe na acção de ciência-cidadã que a SPEA vai organizar para identificar dormitórios desta espécie.


Este artigo foi escrito por Hany Alonso e Sonia Neves, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.


A secção “Seja um Naturalista” é patrocinada pelo Festival Birdwatching Sagres. Saiba mais aqui o que pode ver e fazer neste evento dedicado às aves.