Foto: Pitsch/Pixabay

Portugal teria esgotado agora os recursos naturais para 2020, não fosse a pandemia

A pandemia levou à redução da pegada ecológica dos portugueses, mas é preciso evitar que tudo piore após a retoma, avisa a ZERO, que sugere algumas medidas.

 

Se todas as pessoas do nosso planeta vivessem como os portugueses, seriam necessários os recursos naturais de mais de duas Terras para sustentar esse modo de vida. Se não fosse o confinamento, essa capacidade já se teria esgotado na última segunda-feira, 25 de Maio, um dia mais cedo do que aconteceu no ano passado.

O alerta foi lançado numa nota divulgada esta semana pela ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, que todos os anos, em parceria com a Global Footprint Network, actualiza os dados que dizem respeito à pegada ecológica de Portugal.

 

Cogumelos, musgo, floresta. Foto: Andreas/Pixabay

 

Mas o que é a pegada ecológica? Pode-se por exemplo compará-la a um extracto bancário, em que as despesas são as “necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais”, como é o caso do uso de terra cultivada, florestas, pastagens e áreas de pesca. Já os rendimentos estariam ligados à biocapacidade, ou seja, “a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços”, explica a associação.

Os dados são calculados com base no consumo de bens e emissões de carbono. Com a situação actual e a “paragem forçada da actividade económica”, a data em que Portugal entraria em saldo negativo ficou adiada para um pouco mais tarde, o que representa um ganho face a 2019, mas tal não significa que podemos descansar, avisa a ZERO.

Muito pelo contrário: “Esta é mais uma oportunidade de reflexão sobre como podemos contribuir enquanto individuais e sociedade, para uma retoma com uma pegada menor”, uma vez que Portugal é desde há muito tempo “deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas (produção e consumo)”. Como resultado, “a ‘dívida ambiental’ portuguesa tem vindo a aumentar.”

Quais são as actividades diárias que mais contribuem para a pegada ecológica dos portugueses? O consumo de alimentos, por exemplo, é responsável por praticamente um terço do total (32%). Também muito importantes são as deslocações e a mobilidade em geral, pois representam quase um quinto (18%) dessa responsabilidade.

 

Foto: al grishin/Pixabay

 

A ZERO indica três medidas que todos podem tomar, na vida do dia-a-dia:

 

1. Reduzir o consumo de proteínas animais: aproximar mais a nossa dieta à roda dos alimentos e tornando-a também mais saudável. “Os dados para Portugal indicam que cada português consome cerca de três vezes a proteína animal que é preconizada na roda dos alimentos, metade dos vegetais, um quarto das leguminosas e dois terços das frutas.”

2. Realizar as deslocações de forma sustentável: não deixar de usar transportes colectivos, usar a bicicleta, andar a pé e reduzir ou eliminar de todo as viagens de avião, recorrendo por exemplo às reuniões por videoconferência.

3. Consumir de forma mais circular: Apostar em “ter menos mas de melhor qualidade”, em vez do tradicional “usar e deitar fora”, “com um forte enfoque na redução, reutilização, troca, compra em segunda mão e reparação.”

 

Quanto às políticas públicas, que podem ser adoptadas pelo Governo e incentivadas pelas empresas, a ZERO avança com quatro sugestões: apostar numa agricultura que não dê apoios apenas ligados à produção, mas a outros resultados como a produção de alimentos de qualidade ou a  preservação dos solos e diminuição da poluição; aproveitar o que se está a fazer no recurso ao teletrabalho para reduzir e substituir as viagens e os eventos presenciais; investir em “modos suaves de transporte”, incentivando por exemplo as bicicletas; criar novas regras para que os produtos vendidos sejam sustentáveis, criando “normas de durabilidade, garantias do direito a reparar e atualizar, de reutilização e reciclabilidade.”

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Recorde também cinco medidas que pode tomar em Portugal para ajudar no combate às alterações climáticas.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.