Foto: Helena Geraldes/Wilder

Saiba qual o impacto do incêndio no espaço natural de Doñana

As chamas que deflagraram no sábado em Moguer (Huelva, Andaluzia) ficaram às portas do Parque Nacional de Doñana. O Conselho Superior espanhol de Investigações Científicas (CSIC) resume os danos conhecidos até ao momento e defende que se plante uma floresta mais biodiversa e resistente ao fogo.

 

Para Miguel Ángel Ferrer, coordenador institucional do CSIC, “é terrível o que poderia ter acontecido”, uma vez que o incêndio chegou muito perto do Parque Nacional de Doñana e ficou a apenas quilómetro e meio do Centro de Reprodução do Lince-ibérico de El Acebuche.

Em entrevista à agência espanhola Europa Press, Ferrer elogiou a evacuação “exemplar” feita no centro de El Acebuche. Na tarde de domingo, a equipa do centro teve muito pouco tempo para retirar os mais de 20 linces que viviam no centro, acabando por apenas conseguir retirar 14 animais (nove adultos e cinco crias). Uma fêmea acabou por morrer, provavelmente, devido ao stress. Entretanto, a equipa do centro já devolveu alguns dos animais às instalações.

Ferrer lembra que esta operação foi “muito difícil”, já que alguns linces estavam em cercados muito grandes, mas foi tomada a decisão certa. O fogo ficou a quilómetro e meio do centro e não avançou mais porque o vento diminuiu de intensidade.

Quanto à área queimada, Ferrer disse que é essencialmente pinhal intensivo. Por sorte não havia nenhum casal de águia-imperial a criar nessa zona. Segundo este perito, as espécies que terão sido mais afectadas foram as cegonhas e aves de rapina como os milhafres. À partida, o fogo não terá afectado nenhuma zona importante para aves.

Na sua opinião, para o futuro “o ideal” será desenhar a paisagem “de outra maneira”, para que seja mais heterogénea, com bosquetes e zonas de matagal intermédias, para que a paisagem seja mais biodiversa, disse à Europa Press. “Seria conveniente actuar de outra forma no bosque para conseguir um ambiente menos propenso a incêndios.”

Já a organização WWF – Espanha salienta que se perdeu “uma zona importante para a sobrevivência do lince-ibérico, dentro da área protegida” de Doñana. “Há anos que a WWF denuncia o enorme perigo de incêndio na zona, por causa do caos territorial existente nos pinhais que rodeiam Doñana”, escreve hoje a organização em comunicado.

Segundo as estimativas da organização, o incêndio terá consumido cerca de 10.000 hectares. “A zona é um autêntico barril de pólvora”, diz o secretário-geral da WWF – Espanha, Juan Carlos del Olmo, referindo-se às “linhas eléctricas, construções ilegais e todo o tipo de actividades florestais” no meio dos pinhais que rodeiam aquela área protegida.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.