Saiba o que esta expedição portuguesa descobriu no fundo do mar dos Açores

A expedição Oceano Azul, que está no mar dos Açores para promover a conservação marinha, acaba de anunciar uma descoberta inédita, a 570 metros de profundidade.

 

De 2 a 23 de Junho, o navio NRP Almirante Gago Coutinho está a explorar zonas ainda pouco conhecidas do mar dos Açores, em nome da conservação marinha. Hoje, a equipa científica a bordo anunciou que descobriu um novo campo hidrotermal, a 60 milhas da ilha do Faial.

 

Chaminé do campo onde é visível a atividade hidrotermal. Foto: Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental

 

“Esta é uma descoberta extraordinária, pois este campo hidrotermal encontra-se a menor profundidade do que outros conhecidos na Dorsal Médio-Atlântica e apenas a 60 milhas [quase 97 quilómetros] da ilha do Faial”, disse, em comunicado, Emanuel Gonçalves, líder da Expedição Oceano Azul e administrador da Fundação Oceano Azul.

O campo hidrotermal é uma zona de elevada riqueza biológica e mineral e situa-se a 570 metros de profundidade, no monte submarino Gigante. Foi encontrado graças aos mergulhos do ROV “LUSO” da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC).

Para a comunidade científica, esta é “uma oportunidade única, mais acessível, para conhecermos melhor estes ecossistemas dos quais sabemos ainda muito pouco”, acrescentou Emanuel Gonçalves.

É a primeira vez que uma expedição organizada por uma instituição portuguesa, liderada por cientistas portugueses e utilizando navios e meios nacionais, localiza um campo hidrotermal em águas profundas no nosso território marítimo.

“Esta descoberta reforça o papel único dos Açores como laboratório natural para o estudo do oceano”.

Actualmente são conhecidos oito campos hidrotermais profundos ao largo dos Açores: “Lucky Strike” (o primeiro a ser descoberto, em 1992), “Menez Gwen”, “Rainbow”, “Saldanha”, “Ewan”, “Bubbylon”, “Seapress” e “Moytirra”.

“Os campos hidrotermais são zonas onde emergem fluídos quentes frequentemente relacionados com vulcanismo, ricos em minerais, que criam as condições para o desenvolvimento de um ecossistema único que não depende da luz do sol”, explicou Telmo Morato, coordenador da equipa da expedição Oceano Azul dedicada aos ecossistemas de profundidade e investigador do IMAR e da Universidade dos Açores.

 

Mapa do monte submarino Gigante (em cima à direita) sendo visível a separação entre as placas americana e europeia. Foto: Instituto Hidrográfico da Marinha Portuguesa

 

A maioria dos campos hidrotermais localiza-se em zonas de fronteira de placas tectónicas divergentes, como é o caso da Dorsal Médio-Atlântica que separa o grupo ocidental do grupo central do Arquipélago dos Açores, precisamente onde se encontra o monte submarino Gigante. São zonas de elevada riqueza biológica e mineral, verdadeiros oásis escondidos no oceano profundo, que normalmente são encontrados a quilómetros de profundidade e a centenas de milhas das zonas costeiras.

“O campo hidrotermal agora descoberto é composto por múltiplas chaminés de diferentes alturas. Os fluídos hidrotermais são transparentes, ligeiramente mais quentes que o exterior e ricos em dióxido de carbono”, acrescentou.

Na sua opinião, “esta descoberta da expedição Oceano Azul vem mostrar que ainda existe muito para descobrir no mar português, sendo os Açores uma região única para o estudo do mar profundo.”

A expedição científica é organizada pela Fundação Oceano Azul, em parceria com a Waitt Foundation e a National Geographic Pristine Seas. Tem a colaboração da Marinha Portuguesa através do Instituto Hidrográfico, do Governo Regional dos Açores e da EMEPC.

A sua missão é “explorar zonas ainda pouco conhecidas do mar dos Açores para promover a conservação marinha no âmbito do programa Blue Azores“, explica um comunicado da Fundação Oceano Azul.

Participam na expedição cientistas de vários centros de investigação nacionais – como o IMAR, o MARE, o CCMAR, o CIBIO e a Universidade dos Açores – e internacionais da Universidade do Hawaii, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, da Universidade de Western Australia, e do CSIC, IEO e Museu do Mar de Ceuta em Espanha.

Nos próximos três anos, o mar dos Açores é o tema central do programa Blue Azores, uma parceria entre a Fundação Oceano Azul e a Fundação Waitt. O grande objectivo é “a promoção, protecção e valorização do capital natural azul do arquipélago”, ciência, conservação, avaliação do valor económico dos ecossistemas, literacia e co-gestão das pescas. O programa conta com a colaboração do Governo Regional dos Açores e de outras entidades.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Acompanhe o dia-a-dia da expedição, através deste Diário de Bordo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.