Funil-escamudo. Foto: Marine and Vincent/Wiki Commons

Situação de emergência para uma das espécies mais icónicas do Mar Mediterrâneo

Um parasita está a causar a mortalidade massiva do maior molusco bivalve do Mar Mediterrâneo, o funil-escamudo (Pinna nobilis). Peritos e autoridades tentam travar a extinção de uma das espécies mais icónicas da região.

 

Os primeiros sinais desta mortalidade foram detectados no Sudeste da Península Ibérica e nas Ilhas Baleares em 2016. Mas depressa chegaram notícias de que a mortalidade destes moluscos estava a expandir-se rapidamente a outras zonas.

 

Funil-escamudo. Foto: Marine and Vincent/Wiki Commons

 

Hoje, todas as populações do litoral espanhol foram afectadas, com uma taxa de mortalidade de 99%. O mesmo está a acontecer em várias regiões de França (Córsega) e Itália (Sicília, Apúlia e Campania), segundo um comunicado da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Peritos do LIMIA (Laboratori d’Investigacions Marines i Aqüicultura), da Dirección de Pesca y Medio Marino del Gobierno de Baleares, confirmaram que esta mortalidade é causada por um novo parasita do género Haplosporidium. Este aloja-se no aparelho digestivo do funil-escamudo e enfraquece-o a tal ponto que este morre por inanição.

“As recentes observações de mortalidades massivas em outras populações de funil-escamudo a Sul de Tunes e a Norte da Turquia, se se confirmarem nas próximas semanas, podem indicar a grande capacidade de propagação do parasita e a situação crítica desta espécie”, comentou, em comunicado, María del Mar Otero, perita marinha do Centro de Cooperação do Mediterrâneo da UICN.

Esta situação levou a que no ano passado a espécie tenha sido classificada em Espanha como Em Perigo Crítico de extinção. Desde então foi implementado um programa nacional de resgate que conseguiu pôr a salvo alguns indivíduos em aquários preparados para os receber.

Itália e França, alertados para o que está a acontecer, reforçaram os seus programas de observação costeira e confirmaram casos de mortalidade massiva em várias localidades e a sua expansão contínua.

 

Ainda há esperança

O funil-escamudo tem uma concha que pode chegar aos 120 centímetros. É um molusco impressionante, que pode viver até aos 50 anos.

A esperança desta espécie poderá estar nas lagoas marinhas, até agora menos afectadas. Os peritos acreditam que esses locais serão cruciais para fazer repovoamentos.

“Até ao dia de hoje não sabemos exactamente qual a extensão deste problema no Mediterrâneo”, disse María del Mar Otero. “Precisamos de o saber e de nos prepararmos para a chegada do parasita. Isto se quisermos salvar esta espécie.”

Nas áreas marinhas protegidas, onde se encontram as maiores densidades destes moluscos, são os principais pontos de observação. “Mantemos uma rede de observadores e gestores destes espaços que nos alertam para qualquer sinal de alterações”, explicou Leonardo Tunesi, do Instituto Italiano de Protecção e Investigação do Ambiente.

“No entanto, o grande desafio é identificar soluções concretas para combater esta situação dramática”, acrescentou.

Maite Vázquez Luis, do Instituto Espanhol de Oceanografia, salientou que “uma vez infectados, a probabilidade de sobrevivência destes moluscos é quase nula. Por isso é preciso trabalhar antecipadamente”.

A UICN está a promover uma série de acções para ajudar a avaliar a situação em todo o Mar Mediterrâneo e para definir medidas urgentes. Este organismo internacional recomenda “missões de monitorização ao longo de toda a faixa costeira, com maior frequência durante o Verão”. Além disso, aconselha a preparação de programas de resgate, ou seja, iniciativas para recolher os moluscos em aquários e promover a reprodução em cativeiro para um futuro repovoamento.

Na verdade, em Dezembro de 2017, o Ministério espanhol da Agricultura, Pesca, Alimentação e Ambiente anunciou cerca de 500 mil euros para o resgate de 215 exemplares de Pinna nobilis e para a sua colocação em centros de recuperação na Catalunha, Valência, Múrcia e Andaluzia.

Outra medida é a identificação de focos de alta densidade de funis-escamudos e a sua eleição como áreas prioritárias para adoptar medidas que evitem a infecção.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.