Subiram às árvores para marcar 15 crias de abutre-preto com GPS

Conservação

Marcação de crias de abutre-preto. Foto: LIFE Aegypius Return

Durante o mês de Julho, técnicos marcaram com emissores GPS 15 crias de abutre-preto (Aegypius monachus), espécie Criticamente Em Perigo de extinção, nas quatro colónias do país, no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return.

Hoje há no nosso país menos de 50 casais de abutre-preto (Aegypius monachus), a maior ave de rapina da Europa. É uma ave Criticamente Em Perigo de extinção.

Durante quase meio século, desde a década de 70 até 2010, não nasceram crias de abutre-preto no nosso país. Agora, graças a projectos de conservação, a espécie começa, lentamente, a regressar.

abutre em voo
Abutre-preto. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

A época de reprodução desta espécie, que se estende de Janeiro a início de Setembro, está a ser seguida de perto por vários conservacionistas e peritos. Por estes dias, com cerca de cinco meses, os jovem abutres testam asas e dentro em breve começam a ensaiar os primeiros voos.

Durante o mês de Julho, seis crias foram marcadas no Tejo Internacional, onde está a maior colónia do país. Nesta colónia foram anilhadas e processadas um total de 12 crias, ainda que apenas seis tenham recebido emissores GPS.

Na Serra da Malcata, a evolução da colónia face aos anos anteriores permitiu marcar quatro crias.

Três crias foram marcadas na Herdade da Contenda, concelho de Moura, Alentejo, a colónia mais a sul.

Marcação de crias de abutre-preto. Foto: Milene Matos/VCF

Por fim, no Parque Natural do Douro Internacional, a colónia mais frágil e limítrofe, foram marcadas duas crias.

A marcação envolve a captura das crias ainda no ninho, que é construído no cimo de árvores. As crias são trazidas para o solo, onde são analisadas e marcadas e depois devolvidas ao ninho. “Toda esta metodologia requer pessoal devidamente acreditado pelo ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), mas também experientes escaladores em altura!”, escreve a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) em comunicado..

“Quando as 15 crias marcadas abandonarem o ninho, será possível acompanhar em tempo real os seus movimentos e agir rapidamente, em caso de alguma se encontrar em situação de risco.”

Marcação de crias de abutre-preto. Foto: Milene Matos/VCF

Uma das crias do Tejo Internacional tinha uma protuberância junto a um dos olhos e, por isso, foi encaminhada para o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS), em Castelo Branco, onde a protuberância foi cirurgicamente extraída e a ave se manterá até estar plenamente recuperada.

Para quê monitorizar estes abutres?

O acompanhamento desta época de reprodução foi cuidadosamente preparado desde o início do ano, garantindo que todas as colónias do país recebiam a devida monitorização.

“A monitorização detalhada de cada colónia permite às equipas perceber quantos casais se tentaram reproduzir, quantos conseguiram ter uma postura e quantas crias efetivamente nasceram”. Será também possível aferir quantas crias se tornaram independentes e integraram a população.

A monitorização permite ainda estimar a idade de cada cria, parâmetro fundamental para que estas possam ser marcadas.

Todo este trabalho faz parte do projeto LIFE Aegypius Return, projecto com um orçamento de 3,7 milhões de euros que começou em Novembro de 2022 e que quer duplicar a população desta espécie em Portugal.

Marcação de crias de abutre-preto. Foto: Milene Matos/VCF

Os nove parceiros neste esforço, liderado pela Vulture Conservation Foundation (VCF), trabalham em 10 áreas da Rede Natura 2000, ao longo de quase toda a fronteira entre Portugal e Espanha, para melhorar o habitat e a disponibilidade de alimento e para minimizar ameaças.

O objectivo é, até 2027, duplicar a população de abutre-preto em Portugal para 80 casais em cinco colónias e, assim, baixar o estatuto nacional da espécie de Criticamente Em Perigo para Em Perigo.


Agora é a sua vez.

Eduardo Santos, da LPN, e Gonçalo Elias, do portal Aves de Portugal, dão-lhe as dicas que o vão ajudar a observar abutres-pretos. Leia tudo aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.