Construção de plataforma de nidificação na Herdade da Contenda. Foto: LPN

Abutre-preto: temporada de reprodução de 2024 arranca com 14 novas plataformas de nidificação

É no mês de Janeiro que começam os comportamentos de nidificação do maior abutre de Portugal e espécie Em Perigo de extinção, alvo de um grande projecto de conservação no terreno. Para este ano, o abutre-preto (Aegypius monachus) conta com 14 novas plataformas de nidificação e com melhorias feitas em 20 ninhos.

No ano passado, entre 78 a 81 casais nidificaram em Portugal, distribuídos por quatro núcleos reprodutores: Douro Internacional, Tejo Internacional, Malcata e Herdade da Contenda (Moura, Baixo Alentejo).

um abutre-preto a voar
Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

O projecto LIFE Aegypius Return está a trabalhar para conservar o abutre-preto e uma das peças da sua estratégia é instalar plataformas de nidificação artificiais para aumentar os locais disponíveis para nidificação e assim promover o sucesso reprodutor em áreas com condições favoráveis de habitat.

Equipas especializadas reforçam árvores com postes e cestos de metal que imitam as condições necessárias para a nidificação, explica, em comunicado, a Fundação para a Conservação dos Abutres (VCF, sigla em Inglês).

No Outono de 2023, as equipas do LIFE Aegypius Return realizaram várias intervenções nas quatro colónias do país.

No Douro Internacional, a equipa da Palombar – em colaboração com o Grupo de Intervención en Altura de la Comunidad de Madrid (GIAM, Dirección General de Emergencias – Cuerpo de Agentes Forestales) – instalou nove novas plataformas na Zona de Protecção Especial do Douro Internacional e Vale do Águeda em sobreiros, azinheiras e zimbros.

Plataforma artificial no Douro International. Foto: GIAM

Além disso, a equipa reparou quatro dos ninhos já existentes, dois deles naturais. Os técnicos reforçaram estes ninhos com bocados de madeira, galhos, rede metalizada e lã de ovelha. Outro dos trabalhos foi a instalação de uma réplica de um abutre-preto em tamanho real como forma de atrair novos indivíduos reprodutores àquele núcleo.

Na Reserva Natural da Serra da Malcata foi feita a manutenção de um ninho natural, depois de um trabalho de avaliação feito por técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), da Rewilding Portugal, Quercus e ATNatureza.

Por seu lado, no Tejo Internacional, a equipa da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) coordenou os trabalhos de manutenção em cinco dos ninhos já existentes, feitos por Samuel Infante, da Quercus. Em quatro dos ninhos foram acrescentados bocados de madeira e galhos e os ramos mais próximos foram podados para dar mais espaço para as aves.  A intervenção num ninho natural ocupado em 2023 e em risco de colapso lateral, nomeadamente a instalação de um suporte de madeira, ainda continuam.

Na Herdade da Contenda, no concelho de Moura, a Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e a Herdade da Contenda fizeram trabalhos de manutenção e reparação em 10 ninhos e instalaram cinco novas plataformas de nidificação, com o apoio dos técnicos especializados Carlos Pacheco e Timóteo Mendes.

Construção de uma plataforma de nidificação na Herdade da Contenda. Foto: LPN

A manutenção incluiu o reforço estrutural de dois ninhos e a poda e o acrescento de material vegetal a cinco ninhos. Três ninhos foram completamente reconstruídos. Um tinha caído depois de duas tempestades em Outubro passado e outro colapsou no último Verão, causando a queda e a morte de uma cria.

“A queda de ninhos é um problema comum”, comentou a Fundação para a Conservação dos Abutres. “Em 2010, quando a espécie finalmente recolonizou Portugal, ambos os ninhos colapsaram e as crias caíram ao chão. Se não fossem os cuidados e a determinação da equipa na altura, as crias, provavelmente teriam morrido.”

Cinco novas plataformas artificiais foram instaladas em cima de pinheiros. Uma destas substitui um ninho que estava em cima de uma árvore que caiu durante as tempestades de Outubro.

Nesta altura já decorrem os trabalhos de monitorização a esta temporada reprodutora em Portugal, que se estende de Janeiro a início de Setembro. “Todas as equipas estão no terreno, seguindo o protocolo de monitorização da espécie definido no âmbito do projecto LIFE Aegypius Return.”

Em 2023, o abutre-preto viu o seu estatuto de conservação melhorar para Em Perigo de extinção, em relação a 2005, quando estava Criticamente Em Perigo.


Agora é a sua vez.

Eduardo Santos, da LPN, e Gonçalo Elias, do portal Aves de Portugal, dão-lhe as dicas que o vão ajudar a observar abutres-pretos. Leia tudo aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.