Abelharucos. Foto: Hugo Marques/Wiki Commons

Wiki Loves Earth Portugal: Conheça as histórias de três fotos vencedoras

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Os resultados do concurso anual organizado pela Wikimedia já são conhecidos. A Wilder falou com os autores das imagens premiadas, para eles recordarem o momento em que foram captadas.

A fotografia de dois abelharucos tirada em Pontes, na Reserva Natural do Estuário do Sado, Setúbal, arrecadou o primeiro lugar na categoria Vida Selvagem da competição Wiki Loves Earth 2023.

Abelharucos. Foto: Hugo Marques/Wiki Commons

Hugo Marques, 44 anos, mestre e proprietário de uma empresa de observação de golfinhos no estuário do Sado, a Dolphin Bay, disse à Wilder que o local da fotografia premiada fica próximo de sua casa. “Foi num dos poucos dias em que estava de folga do trabalho, pois sempre que tenho tempo disponível tento fazer o ‘gosto ao dedo’ tirando fotografias de natureza.”

Ali na zona onde vive, Hugo costuma ver “muitas vezes” abelharucos, aves coloridas e migradoras que estão em Portugal desde finais de Março até Setembro. No entanto, “são poucas” as oportunidades para os fotografar, embora seja uma actividade que adora.

“Além de muito bonitos proporcionam fotos muito boas, seja em vôo ou pousados nos ramos das árvores. Normalmente trazem insectos para oferecer às fêmeas. É uma espécie de oferenda que os machos vão fazendo, com o intuito de ao fim de alguns ‘doces’ elas os deixarem depois acasalar.”

Já na categoria Paisagem do concurso deste ano, o primeiro lugar foi atribuído a André Moniz Vieira pela fotografia “Auréola no topo da montanha do Pico”, tirada na ilha do Pico, Açores.

Auréola no topo da montanha do Pico. Foto: André Moniz Vieira/Wiki Commons

André Moniz Vieira, que tem 28 anos e vive no Funchal, Madeira, explicou à Wilder que é fotógrafo profissional e proprietário de uma produtora de vídeo e fotografia no arquipélago, empresa que faz trabalhos comerciais e na área cinematográfica para todo o mundo.

“Tirei esta fotografia aquando de uma viagem de trabalho que fiz à ilha do Pico nos Açores em Maio de 2021”, descreveu André, acrescentando que essa deslocação teve objectivos profissionais, mas também uma meta pessoal: “Poder escalar a maior montanha de Portugal, a montanha do Pico”.

“Foi um desafio muito intenso mas extremamente recompensador, tinha contraído Covid-19 pela primeira vez na semana anterior à viagem e estava reticente se estaria em condições físicas” para isso, lembrou. Todavia, conseguiu chegar à cratera “em quatro horas”, onde o grupo pernoitou em tendas de campismo, e “a adrenalina de ter conseguido esta conquista pessoal foi tanta” que não conseguiu dormir a noite toda.

“Ao primeiro raio de sol”, subiram a última extensão da montanha e alcançaram o ponto mais alto. “Foi nesta altura que, ao deparar-me com toda aquela imensidão, pude reparar na auréola multicolor no topo da sombra triangular desta pirâmide natural, que desbrava as nuvens e empodera todos os montanhistas que a conquistam”, recordou à Wilder. “Com esta foto, comecei a olhar para as coisas de uma maneira mais esperançosa, convencendo-me de que nada é impossível.”

Já o segundo lugar na categoria Paisagem foi ganho por Nuno Luís, com a fotografia “Ninho ao luar”. A mesma imagem arrecadou a menção honrosa Troféu Oceanos, criada em 2022 por sugestão do CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, parceiro do concurso. Esta menção honrosa distingue as fotografias de vida e habitats marinhos.

Ninho ao luar. Foto: Nuno Luís/Wiki Commons

Nuno Luís, 49 anos, vive na Costa da Caparica e trabalha como consultor de sistemas de informação. Enquanto fotógrafo amador escreve também para a revista de fotografia Perspetiva, onde assina a coluna “Convergências”.

A imagem do ninho de cegonhas foi captada no Cabo Sardão, concelho de Odemira, “onde a paisagem é particularmente dramática e as cegonhas fazem os seus ninhos nos locais mais inesperados e inóspitos”, narrou Nuno Luís à Wilder. Nesse local com pouca luz e bastante isolado, optou por aproveitar “uma noite de lua cheia para fotografar este ninho em particular, que é um dos mais icónicos por estas paragens”. Assim, a luz que na imagem ilumina o ninho e o seu entorno é proveniente da lua, “talvez uma hora antes do seu ocaso”.

“O mar nesse dia estava especialmente revolto, em contraste com a cegonha e a sua cria, que imunes à bravura do mar, fitavam ao longe a linha do horizonte”, descreveu o fotógrafo. “Este momento retrata isso mesmo, a calmaria da cegonha e da sua cria em contraste com a paisagem agreste circundante.”

É pela possibilidade de presenciar esses instantes, aliás, que Nuno tem uma paixão por “retratar a época de nidificação da cegonha-branca ao longo da costa sul de Portugal continental”, de onde resultou esta imagem. Actualmente, prossegue com o projecto de fotografar o litoral do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. “Quanto mais visito este Parque, mais sinto que é um projeto que talvez nunca tenha um fim, uma vez que é um local que me surpreende a cada visita.”

Quanto aos restantes prémios, o terceiro lugar na categoria Paisagem foi entregue a uma imagem captada no Parque Natural da Serra de Estrela.

O caminho para o Vale Glaciar. Foto: JC Ferreira/Wiki Commons

No âmbito do concurso, foram atribuídas menções honrosas a três fotografias, a primeira tirada no Estuário do Sado, e a segunda e terceira na Ria Formosa.

Anjo caçador. Foto: Nuno Cândido/Wiki Commons
Coruja-do-nabal, percorrendo salinas na busca de alimento. Foto: João Lelo/Wiki Commons
Guarda-rios, incomodado com uma abelha. Foto: João Lelo/Wiki Commons

O objectivo do Wiki Loves Earth é “angariar fotografias de todo o património natural do mundo, sob uma licença livre, de modo a que fiquem acessíveis a todos no Wikimedia Commons e possam ilustrar os respectivos artigos enciclopédicos na Wikipédia”, explica a Wikimedia Portugal, associação sem fins lucrativos.

A fase nacional do concurso realizou-se em Portugal e também noutros países de forma independente, sendo premiadas, com prémios até 500 euros, as melhores fotografias nas categorias de Paisagem e de Vida Selvagem.

Numa segunda etapa, as 15 melhores imagens captadas em áreas protegidas de Portugal vão seguir para a próxima fase da competição, a nível internacional, onde concorrem com as melhores imagens de outras nacionalidades. No início de 2022, o fotógrafo português Luís Afonso venceu a etapa internacional, na categoria Paisagem.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.