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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

Zero pede mais investimento na conservação das zonas húmidas

Turfeiras de montanha e sublitorais e charcos temporários mediterrânicos estão entre os habitats ligados às zonas húmidas mais degradados, mas há falta de investimento na sua conservação, avisou a associação Zero esta sexta-feira, no Dia Internacional das Zonas Húmidas.

 

“Começa a ser evidente que o Estado português está a falhar por inacção e por falta de investimento na conservação dos habitats mais degradados, em particular no que respeita às turfeiras de montanha e sublitorais e aos charcos temporários mediterrânicos”, indica a Zero, num comunicado enviado à Wilder.

Quanto aos charcos temporários mediterrânicos, aliás, são considerados “dos habitats naturais mais degradados em Portugal Continental”, aponta.

“É de difícil compreensão que estes habitats, protegidos por compromissos de Portugal no âmbito da União Europeia, sejam alvo de reduzida ou de nenhuma atenção por parte do POSEUR (Programa Operacional para a Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos) ou do Fundo Ambiental”, critica a associação, que acusa o Ministério do Ambiente de dar “um claro sinal de desorientação” na área da conservação da natureza.

O Dia Internacional das Zonas Húmidas comemora todos os anos a assinatura da Convenção sobre Zonas Húmidas, conhecida por Convenção de Ramsar e assinada a 2 de Fevereiro de 1971 na cidade de Ramsar, no Irão. Conta com 150 países-contratantes a cobre cerca de 134 milhões de hectares, num total de 1.600 sítios de importância internacional.

Em Portugal, as zonas húmidas ocupam apenas 1,8% do território. Mas destas áreas, só 79% estão protegidas pela convenção, num total de 31 sítios Ramsar – 18 no Continente e outros 13 nas ilhas dos Açores. No total, estão em causa 132.487 hectares.

Ao todo, no país podem observar-se 43 representações de 22 habitats naturais diferentes relacionados com as zonas húmidas, incluindo nos Açores e na Madeira. No entanto, 22 destas representações estão em estado de conservação desfavorável e outras 9 estão mesmo em mau estado de conservação. É o caso das lagunas temporárias, dos charcos temporários mediterrânicos e das turfeiras, lembra a Zero, em comunicado.

“A atribuição de um estatuto de protecção a um determinado local nem sempre é uma garantia de conservação ou do seu uso sustentável”, sublinha.

O pastoreio, a alteração das linhas de água, a sobre-exploração dos aquíferos e o fogo são as principais ameaças às turfeiras, “ambientes muito sensíveis dominados por musgos que ocorrem nas zonas montanhosas e nas áreas contíguas ao litoral com forte ligação aos aquíferos.”

Já as lagunas costeiras estão a ser pressionadas pelo assoreamento, pela drenagem, soterramento e ainda pela pressão turística, como acontece na Lagoa dos Salgados e na Lagoa de Óbidos, indica.

A Zero chama também a atenção para as ameaças que estão a degradar os charcos temporários mediterrânicos, “muito ameaçados” pela agricultura e pelo pastoreio intensivos, que provocam a sua drenagem e o pisoteio das margens, e ainda pelo uso de pesticidas – “situação que é muito grave no Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, onde a instalação de estufas está em completo descontrolo”.

 

Reservatórios de biodiversidade

Por que são importantes as zonas húmidas? São “‘reservatórios’ de biodiversidade, já que abrigam milhares de espécies animais e vegetais e são autênticas infraestruturas ecológicas, fornecedoras de serviços de ecossistema às comunidades humanas”, descreve a associação.

Por outro lado, tanto estas como os aquíferos são decisivos na regulação do ciclo hidrológico: “Não só ajudam a conter as inundações, através dos processos de filtração, mas também reduzem a energia das cheias após os picos de precipitação.”

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Fique a conhecer a vida preciosa dos charcos temporários da Costa Sudoeste, que fazem parte dos charcos mediterrânicos, e também nove espécies que ali habitam.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.