Foto: Helena Geraldes

Zero leva Estado a Tribunal por causa do aeroporto do Montijo

A associação ambientalista interpôs ontem uma acção judicial no Tribunal Administrativo de Lisboa para obrigar o Estado a realizar uma Avaliação Ambiental Estratégica relativa ao aeroporto complementar no Montijo.

 

O processo para a construção do novo aeroporto civil de Lisboa no Montijo, na margem esquerda do Estuário do Tejo – uma das zonas húmidas mais importantes da Europa para as aves – continua a dar que falar.

Ontem, a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável interpôs uma acção judicial com carácter de urgência no Tribunal Administrativo de Lisboa contra a APA – Agência Portuguesa de Ambiente, na sua qualidade de Autoridade Nacional de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) e de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE). O objectivo é “obrigar à realização de uma Avaliação Ambiental Estratégica relativa à decisão de instalar um aeroporto complementar no Montijo”, explica a associação em comunicado.

No entender da ZERO, uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é fundamental por motivos legais, “uma vez que a legislação europeia e nacional assim o obriga” e, “acima de tudo, por questões estratégicas e de planeamento de longo prazo”, já que esta decisão terá “um enorme impacte no país em termos económicos, sociais, ambientais e de ordenamento do território”.

Em causa está um novo aeroporto complementar no Montijo e o aumento da capacidade aeroportuária do Aeroporto Humberto Delgado em Lisboa. A ZERO considera que este é um “verdadeiro plano sectorial na área do transporte aeroportuário”, com impactes que “requerem uma avaliação aprofundada, que tenha em consideração diferentes cenários e alternativas, e que possa colocar em perspetiva quais as opções possíveis, no sentido de uma decisão informada sobre a melhor relação custo-benefício no longo prazo, avaliação essa que mais não é do que uma AAE”.

A associação acusa o Governo de “falta de transparência” em todo este processo, mais concretamente ao sonegar informação e “não permitir qualquer escrutínio por parte de terceiros, sejam os cidadãos ou mesmo outras entidades públicas”.

“Com esta ação judicial a ZERO espera que seja possível avaliar de forma aprofundada e transparente quais as melhores opções para uma decisão que terá um profundo impacte no país durante as próximas décadas.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Em Fevereiro de 2017, a Zero já tinha lançado um alerta para os “impactes significativos” de um aeroporto complementar no Montijo sobre as aves e habitats do Estuário do Tejo. Pode ler aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.