Milhafre-real. Foto: John Navajo/Shutterstock

Acompanhe estas oito aves nas suas migrações entre Europa e África

Na véspera do Dia Mundial das Aves Migradoras, a 14 de Outubro, foi lançado um site onde pode acompanhar as rotas migratórias de oito espécies. Em breve mais se juntarão a este centro de informação ornitológica digital da Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).

Hoje foi lançada uma versão melhorada e ampliada do site migraciondeaves.org, local onde poderá encontrar informação científica de mais de uma década de trabalho do programa Migra, desenvolvido desde 2011 pela SEO/Birdlife, em colaboração com a Fundación Iberdrola España.

Milhafre-real. Foto: John Navajo/Shutterstock

Até ao momento, o programa Migra conta com dados de 1.349 aves marcadas, de 38 espécies diferentes. Para este site foram escolhidas oito dessas espécies, as que têm mais dados: cegonha-branca (Ciconia ciconia), milhafre-real (Milvus milvus), peneireiro-das-torres (Falco naumanni), falcão-da-rainha (Falco eleonorae), alma-negra (Bulweria bulwerii), cagarra-do-mediterrâneo (Calonectris diomedea), águia-calçada (Hieraaetus pennatus) e gaivota-de-audouin (Larus audouinii).

“Por enquanto apenas mostramos oito espécies porque são aquelas que têm estudos com sistemas de seguimento remoto espalhados por Espanha”, explicou, em comunicado, Juan Carlos del Moral, coordenador do programa Migra. “A estas irão sendo acrescentadas outras aves migradoras à medida que formos avançando neste programa de seguimento.”

As viagens de cada espécie estão completadas com os mais recentes artigos científicos sobre a migração das oito aves, mapas interactivos, fotos e vídeos. Por exemplo, a alma-negra está nas águas das ilhas Canárias desde Abril a finais de Setembro para se reproduzir. Depois realiza uma grande migração para passar o Inverno em áreas oceânicas do Atlântico Central e Sul.

Este site tem como objectivo “mostrar os movimentos de todas as espécies de aves presentes em Espanha e contribuir com essa informação para a sua conservação e para conhecer o estado das populações, assim como obter informação sobre as suas ameaçadas e possíveis causas que possam alterar os seus movimentos migratórios”, explicou a SEO/Birdlife.

Graças aos dispositivos de marcação por satélite pode-se conhecer com todo o detalhe os movimentos do ciclo biológico das aves, as suas rotas migratórias e zonas de descanso durante a migração, as zonas de invernada e zonas de alimentação durante a reprodução.

“Esta informação é imprescindível para conservar as aves, uma vez que é preciso saber em que regiões e habitats passam as nossas espécies cada época do ano, para identificar as suas áreas prioritárias e também para poder determinar quais são as ameaças que possam pô-las em perigo e assim poder gerir e conservar as áreas que usam durante todo o ano”, explicou Del Moral.

A SEO/Birdlife adianta que nos próximos meses irão ser acrescentadas viagens, artigos com análises específicas e artigos científicos de cerca de 20 espécies de aves marcadas nos anos prévios, bem como vídeos e mapas.

Gaivota de Audouin. Foto: Erni/Shutterstock

Há ainda ligação a outros portais de interesse ornitológico, como o Movebank, Bird Migration Audubon, EuroBird Portal ou o Eurasian African Bird Migration Atlas.

Evolução do seguimento das aves

Os movimentos das aves podem ser estudados de muitas formas.

Há décadas que existem pontos de observação da migração das aves, zonas onde se verificam importantes concentrações de aves migradoras e onde é relativamente fácil observá-las e contá-las. Exemplos dessas zonas são o estreito de Gibraltar, os extremos dos Pirinéus ou Sagres, em Portugal.

Outra forma é através da anilhagem científica, método que já tem mais de um século de história. Através de anilhas que identificam cada exemplar, este método ajuda a conhecer os movimentos das aves e vários parâmetros da sua biologia que não se podem obter sem ter as aves na mão.

Um método mais moderno é usar radares meteorológicos. Descobriu-se que estes radares permitem avaliar a fenologia e o volume das aves migradoras, o que ajuda a compreender como se deslocam e numerosas variáveis associadas a essas deslocações (abundâncias, direcções, horários, etc).

Ainda que existam outros sistemas, um método desenvolvido nas últimas décadas consiste na marcação de aves mediante sistemas de seguimento remoto que facilitam numerosas localizações diárias ao longo da vida do exemplar marcado e permite avançar muito no estudo dos seus movimentos.

“O Programa Migra utiliza o seguimento remoto como ferramenta principal mas pretende trabalhar em paralelo com os outros sistemas para compreender os movimentos das aves”, salientou Del Moral.

O Dia Mundial das Aves Migradoras celebra-se no segundo sábado de Outubro e é uma campanha anual de sensibilização para a necessidade da conservação das aves migradoras e dos seus habitats. Este ano, o tema é a água e a sua importância para estas aves. “A grande maioria das aves migradoras depende dos ecossistemas aquáticos em alguma fase dos seus ciclos de vida”, lembrou a SEO/Birdlife. “As zonas húmidas interiores e costeiras, os rios, lagos, lagoas e charcos são vitais para se alimentarem, beber ou nidificar e também como lugares para descansar durante as suas longas viagens.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.