Sisão (Tetrax tetrax). Foto: João Paulo Silva

Aves estepárias: o que são, onde vivem e o que precisam para sobreviver

Pequenas como as calhandras ou grandes como as abetardas, as aves estepárias precisam cada vez mais da nossa ajuda para sobreviver. A Wilder perguntou e os investigadores do novo Grupo de Investigação em Aves Estepárias respondem a três perguntas para as conhecermos melhor.

O que são aves estepárias?

As aves estepárias são aves que evidenciam uma ecologia adaptada a meios predominantemente abertos (sem árvores ou arbustos) em sistemas naturais ou alterados pelo homem, geralmente coincidentes com sistemas agrícolas extensivos. Por exemplo, como a cultura tradicional de cereais de sequeiro e pastagens mais tradicionais.

Existem mais de 10 espécies diferentes em Portugal, como o alcaravão (Burhinus oedicnemus), calhandrinha-comum (Calandrella brachydactyla), calhandra-de-dupont (Chersophilus duponti), tartaranhão-caçador (Circus pygargus), codorniz (Coturnix coturnix), cotovia-de-poupa (Galerida cristata), calhandra-real (Melanocorypha calandra), abetarda (Otis tarda), cortiçol-de-barriga-branca (Pterocles alchata), cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis) e o sisão (Tetrax tetrax).

Muitas aves estão dependentes destas estepes cerealíferas. Por exemplo, as fêmeas de várias espécies constroem os seus ninhos nos solos, escondidos pela alta vegetação.

Onde vivem em Portugal?

As áreas estepárias, também designadas como pseudo-estepárias, ocorrem principalmente no Alentejo interior (distritos de Évora, Beja e Portalegre) e Nordeste Transmontano (distrito de Bragança), em grande parte coincidentes com a área onde predominava o cultivo extensivo de cereais.

Que características teria o habitat ideal para estas aves?

Para Portugal, o sistema cerealífero extensivo é o mais adequado para assegurar um estado de conservação favorável para a comunidade de aves estepárias.

Este sistema tradicional é gerido com rotação de culturas, cereal de 1ª, cereal de 2ª, pousio com um mínimo de 2 anos (que é pastoreado), e alqueive (ou lavrado) que pode ser revestido com uma cultura de leguminosas.

No seu conjunto proporciona uma matriz de habitats que varia no espaço e no tempo, favorecendo uma comunidade muito rica de aves.


Saiba mais.

Conheça aqui o novo Grupo de Investigação criado especialmente para conhecer melhor as aves estepárias na Península Ibérica.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.